O Boletim #8 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No sétimo texto, “Frente ampla e a escalada de violência: democracia ou barbárie na reta final das eleições”, a graduanda em Ciências Sociais Maria Barreto apresenta um quadro geral das questões evangélicas nas eleições de 2022. Para isso, nesse sétimo boletim, será demonstrado como a consolidação da Frente Ampla pela democracia e a escalada de violência se tornaram fatores cruciais nessa reta final das eleições e o resultado do pleito.

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Frente ampla e a escalada da violência: Democracia ou barbárie na reta final das eleições
Maria Carolina Barreto[81]

Resumo O presente texto faz parte da pesquisa do Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo apresentar um quadro geral das questões evangélicas nas eleições de 2022. Para isso, nesse sétimo boletim, será demonstrado como a consolidação da Frente Ampla pela democracia, a escalada de violência que se tornaram fatores cruciais nessa reta final das eleições e o resultado do pleito. Nossa hipótese é que serão mobilizadas narrativas cristãs para o segundo turno. Para tal estudo, a metodologia utilizada foi a interpretação e análise de pesquisas quantitativas, realizadas pelo GENIAL/QUEST e bibliográficas acerca dos temas citados. Além disso, o uso de matérias publicadas em sites jornalísticos como Grupo Globo, Uol, BBC News, Poder 360, entre outros, além de sites oficiais do governo federal e do legislativo.

Introdução

A defesa da democracia, das instituições políticas e da população brasileira são determinantes para o futuro democrático do país. A guerra santa[82] promovida pelo bolsonarismo aponta fortes tendências autoritárias e antidemocráticas que estão sendo mobilizadas nessas eleições. Contudo, esse nível de radicalização política, violência, sobretudo contra mulheres, questionamento das urnas e o avanço de um possível golpe resultou em uma aliança de ex-candidatos à presidência da república ao Lula, principal representante eleitoral da via capaz de reconstruir e fortalecer o processo democrático do Brasil. Essas movimentações na última semana para o pleito esbarraram na realidade de eleitores evangélicos, das principais lideranças neopentecostais e nas pesquisas de intenção de voto, consequentemente no seu resultado.

Frente ampla e as mulheres evangélicas: pontos cruciais para o primeiro turno

Como foi previsto no boletim anterior do monitoramento eleitoral 2022[83], Lula e a sua equipe mobilizaram sua campanha para fortalecer as relações com as mulheres evangélicas nessa reta final das eleições com a finalidade de ainda ganhar em primeiro turno. O marco disso foi o encontro do ex-presidente com uma forte liderança evangélica feminina, a ex-ministra do meio ambiente, Marina Silva, em uma reunião da Frente Ampla e pela defesa da democracia que contou com outras participações de antigos candidatos à presidência da república.

Para compreender essa importante iniciativa de expansão política, é fundamental mencionar o histórico de uma das principais aliadas das causas femininas evangélicas. Em 2014, Marina Silva empatou com Dilma na liderança de intenção de voto à presidência no primeiro turno, as duas chegando a 34% nas pesquisas[84]. Na capital do Rio de Janeiro, a ex-ministra do meio ambiente alcançou 33 zonas eleitorais, obtendo mais de 2 milhões de votos só nesse território, enquanto Dilma conseguiu somente 28[85]. A mobilização de reta final é decisiva para levar um dos candidatos favoritos da população ao 2º turno. Entretanto, como temos desenvolvido ao longo dos boletins da OPEL, essas eleições de 2022 estão marcadas por uma possibilidade concreta de existência de um golpe autoritário no país. Logo, a aproximação de Marina Silva com o ex-presidente Lula resulta em uma construção democrática para o povo evangélico e um futuro governo que tenha atenção às demandas evangélicas femininas que foram negligenciadas ao longo dos 4 anos de mandato de Bolsonaro, como apresentaremos a seguir.

A escalada de violência e o afastamento do Bolsonarismo

O mês de setembro também foi definido pela excessiva progressão de ataques realizados por militantes bolsonaristas nas ações violentas apoiadas pelo próprio presidente. A partir dessa realidade de um imaginário sociopolítico de uma guerra santa que se exacerba a cada vez mais com a proximidade do primeiro turno, vem sendo seguido por uma migração do eleitorado evangélico ao candidato Lula aos poucos, sobretudo as mulheres.

Esse contexto foi intensificado após o encontro de Lula com os evangélicos em São Gonçalo (RJ) no mês de setembro que resultou em um confronto entre as próprias lideranças cristãs. Um exemplo marcante disso foi o do pastor Sérgio Dusilek que foi pressionado a renunciar à presidência da Convenção Batista Carioca (CBC) depois de pedir perdão ao ex-presidente pela perseguição que vem sofrendo ao longo dos anos pelas igrejas neopentecostais[86]. Nesse mesmo período, com o uso do dinheiro público do estado brasileiro, Silas Malafaia acompanhou o atual presidente em uma viagem ao velório da Rainha Elizabeth II declarava que cristãos de verdade não poderiam ir contra os valores da família, moral e bons costumes. Portanto, na lógica líder da Assembleia de Deus, os evangélicos de verdade não poderiam ser de esquerda, uma vez que essa ideologia corrompe os ensinamentos de Cristo, e consequentemente apoiando as agressões aos pastores progressistas alegando que esses eram falsos seguidores de Deus. A escalada de violência política deu origem a tragédias dentro dos templos considerados sagrados pelos fiéis. No dia 11 de agosto, a cúpula da Congregação Cristã no Brasil, uma das igrejas neopentecostais mais tradicionais do país, foi um local de agressão contra Davi Augusto, que foi baleado por um PM que o chamava de “irmão de fé”. De acordo com O Globo, a vítima alega que isso aconteceu após discordar da igreja que distribuía notas contra o PT e exaltava Bolsonaro, nas palavras dele: “religião e política não devem se misturar”[87]. Como ressaltado pelo pastor Ed Rene no podcast “Café da Manhã” da Folha, era possível no passado discutir política nas igrejas sem violência da guerra santa produzida pelo Bolsonarismo, mas atualmente resulta em perseguições, bullying e mortes.

Essa transformação da igreja em um campo de batalha e tensão política impede que os evangélicos a considerem como uma extensão de suas casas, segundo o antropólogo Juliano Spyer. A partir disso, como demonstrado anteriormente, as mulheres evangélicas que se viram negligenciadas no governo de Bolsonaro e tendem a se interessar pelas temáticas relacionadas ao bem estar e assistência social das famílias brasileiras, recusam pautas de cunho violento produzidas e geradas pelo Bolsonarismo.

O primeiro turno e as novas dinâmicas no eleitorado evangélico

O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 não agradaram muito a ala progressista. Os que desejavam que Lula ganhasse logo no dia 2 de Outubro se surpreenderam ao ver a margem de erro de Bolsonaro maior do que se esperava, ficando 5% atrás do ex-presidente. Por outro lado, o movimento bolsonarista também não ficou satisfeito com isso, uma vez que acreditavam que sairiam com 60% de votos. Tal realidade afetou as redes sociais nesses primeiros dias após o pleito, notícias do atual presidente participando de reuniões da maçonaria mexeram com o eleitorado evangélico. Apesar da comunidade cristã não admitir essa mistura de crenças, o pastor Silas Malafaia publicou em seu instagram um vídeo em defesa a Bolsonaro, alegando que quem servia satanás era Lula que frequentava terreiros de religiões de matrizes africanas, novamente acionando a retórica racista que está intrínseca no bolsonarismo[88].

Conclusão

Ao observar essa disputa de narrativas para conquistar o apoio do eleitorado evangélico nessa primeira semana depois do resultado do primeiro pleito, deixa claro que o fator religioso será crucial para a determinação do futuro presidente. Criações de fake news, invocação do nacionalismo cristão e ameaças autoritárias dentro das Igrejas se tornarão marcantes nessa reta final para o segundo turno.

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[81] Graduanda em Ciências Sociais (IFCS-UFRJ) e pesquisadora da OPEL e NUDEB-UFRJ.

[82] https://observatoriodoconhecimento.org.br/eleicoes-de-2022-ou-guerra-santa-uma-disputa-de-narrativas-sobre-deus-e-os-eleitores-por-maria-carolina-barreto/

[83] https://observatoriodoconhecimento.org.br/eleicoes-de-2022-ou-guerra-santa-uma-disputa-de-narrativas-sobre-deus-e-os-eleitores-por-maria-carolina-barreto/

[84] https://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/30/politica/1409359034_072819.html

[85] https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/no-rio-marina-e-aecio-vencem-em-33-zonas-eleitorais-cada-um-e-dilma-em-28.html

[86] https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/09/pastor-atacado-apos-defender-lula-desabafa-se-tivesse-falado-do-bolsonaro-nao-teria-acontecido-nada-disso.ghtml

[87] https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/09/16/fiel-baleado-por-pm-durante-briga-por-politica-em-igreja-de-goiania-recebe-alta-de-hospital-diz-familia.ghtml

[88] https://observatoriodoconhecimento.org.br/eleicoes-de-2022-ou-guerra-santa-uma-disputa-de-narrativas-sobre-deus-e-os-eleitores-por-maria-carolina-barreto/

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