O Boletim #6 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No oitavo texto “Eleições de 2022 ou guerra santa? Uma disputa de narrativas sobre Deus e os eleitores”, a graduanda em Ciências Sociais Maria Barreto apresenta um quadro geral das questões evangélicas nas eleições de 2022.

Confira o texto abaixo!

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Eleições de 2022 ou guerra santa? Uma disputa de narrativas sobre Deus e os eleitores
Maria Carolina Barreto[76]

Resumo O presente texto faz parte da pesquisa do Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo apresentar um quadro geral das questões evangélicas nas eleições de 2022. Para isso, nesse quarto boletim, será demonstrado uma disputa de narrativas sobre Deus e em volta do eleitorado evangélico entre o campo progressista e conversador, encabeçados pelos candidatos Luiz Inácio e Jair Bolsonaro, respectivamente. Nossa hipótese é que para o fortalecimento da democracia será necessário o candidato Lula compreender as demandas evangélicas femininas para ganhar no primeiro turno. Para tal estudo, a metodologia utilizada foi a interpretação e análise de pesquisas quantitativas, realizadas pelo GENIAL/QUEST e bibliográficas acerca dos temas citados. Além disso, o uso de matérias publicadas em sites jornalísticos como Grupo Globo, Uol, BBC News, Poder 360, entre outros, além de sites oficiais do governo federal e do legislativo.

Introdução

Ao longo dos boletins do monitoramento eleitoral de 2022, pode-se observar que o Brasil encontra-se em um paradoxo de caminhos contraditórios e decisivos para o futuro das instituições políticas e para a população. Seguindo as análises de cientistas políticos existe, por um lado, uma via eleitoral que encaminhará a construção e restabelecimento democrático ou a outra que poderá levar o país para uma espécie de golpe autoritário. Essa forte polarização entre a garantia da democracia e um autoritarismo também é atravessada pelo meio evangélico diante das eleições deste ano.

A Guerra Santa entre o bem e o mal

Em meio a essa polarização, a estratégia eleitoral de Jair Bolsonaro para 2022 é similar à de quatro anos atrás: apresentar-se como “messias”, defensor dos valores cristãos e único capaz de impedir a destruição da pátria e da família tradicional. Dessa forma, a equipe de campanha dele tem utilizado a construção de um imaginário social de uma “guerra santa” entre o verdadeiro cristão contra esse mal representado pela ala da esquerda e o candidato Lula pelo PT. O resultado disso, como visto nos outros boletins, é o atual presidente seguindo como liderança em intenção de voto em relação ao recorte eleitoral evangélico[77]. Seguindo essa lógica, a primeira-dama, uma das principais protagonistas da campanha de seu marido[78], publicou em suas redes sociais vídeos e imagens do ex-presidente Lula que participava de uma cerimônia de candomblé afirmando que ele “entregou a alma para vencer a eleição”.

Além disso, Michelle Bolsonaro também declarou que os bolsonaristas “não lutavam contra carne nem sangue, mas sim contra as trevas”, simbolizando que as religiões afro-brasileiras seriam a representação desse inimigo contra Deus, a pátria e a família. Assim como, também apresentou um hipotético cenário em que evangélicos são perseguidos. De acordo com o interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIRJ) e Bàbáláwo, Ivanir do Santos, essa demonstração apresenta de maneira didática o racismo e a intolerância religiosa que são estruturantes do movimento bolsonarista[79].

Segundo uma pesquisa Datafolha de 2020, 81% da população brasileira é cristã e devido a isso, os evangélicos não teriam como ser perseguidos. Logo, as atitudes de Michelle refletem os diversos ataques que as religiões e comunidades afro-brasileiras sofrem ao longo da história e construção do Brasil que é estruturalmente racista. Por essa razão, o slogan “Deus acima de tudo, Brasil acima todos” procede nessa lógica hierárquica com o Deus cristão em primeiro plano, negando quaisquer outras manifestações religiosas existentes, e com a família tradicional, especialmente branca, aparecendo como a manifestação orgânica da vontade divina. Projeta-se, assim, um mundo homogêneo, sem divisões raciais, de gênero ou classe, impondo o olhar branco, patriarcalista e heteronormativo sobre a população.

A encruzilhada entre mulheres evangélicas e o futuro da democracia brasileira

A desinformação e as Fake News nas redes sociais e em eventos com evangélicos por parte de Bolsonaro em relação ao candidato petista são algumas das dinâmicas que ameaçam o processo democrático eleitoral. Por outro lado, o candidato pelo PT declarou que não irá utilizar a fé e a religião como forma instrumentalizada para ganhar votos, ao contrário disso, procurará incluir todas as perspectivas religiosas dentro do seu segmento político.

Entretanto, sabe-se que derrotar o atual presidente no dia 2 de Outubro, ainda no primeiro turno, é essencial para o fortalecimento democrático. Para isso, a equipe do mais bem colocado nas intenções de voto gerais acredita que Lula deve resgatar e reverter a diferença de votos entre o eleitorado evangélico que segundo uma pesquisa realizada em Agosto pelo GENIAL/QUAEST, apresenta Bolsonaro com 52% de apoio em relação a 28% do petista dentro desse recorte eleitoral[80]. Dessa forma, em seu primeiro ato de campanha, no ABC Paulista, Lula acenou para o eleitorado cristão e disse que Bolsonaro é possuído pelo demônio a partir das ações negacionistas diante da pandemia do COVID-19 que colocou em risco a vida de milhões de brasileiros[81].

Como apresentado nos boletins anteriores, a formação das famílias evangélicas brasileiras que em sua maioria são constituídas por uma forte presença matriarcal, negra e pobre. Essa realidade pode favorecer a reversão ou um maior equilíbrio dentro dessa disputa política em favorecimento do Lula, uma vez que o público feminino é a maior parte dos seus apoiadores. Portanto, novamente ressalta-se no Monitoramento Eleitoral de 2022 que a divisão de gênero será crucial para a decisão das eleições deste ano.

Conclusão

A tática de Jair Bolsonaro em construir um imaginário social de uma guerra santa fez com que o seu fortalecimento dentro do eleitorado evangélico se mantivesse, através do pilar do preconceito racial e da intolerância religiosa. Nesse sentido, um viés autoritário e antidemocrático é demonstrado em sua construção política ao longo de seu mandato, o que tornou necessário ser derrotado nas urnas eleitorais em Outubro de 2022. Para isso, Lula, o candidato mais bem colocado nas pesquisas e o único a reverter esse cenário, segue tentando conquistar a ala feminina evangélica, uma vez que a maioria do seu eleitorado possui uma forte presença de mulheres. Logo, será necessário compreender essa disputa de gênero dentro desse recorte eleitoral com a finalidade de atender a demanda dessas mulheres e garantir a democracia.


[76] Graduanda em Ciências Sociais (IFCS-UFRJ) e pesquisadora da OPEL e NUDEB-UFRJ.

[77] https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/post/2022/08/16/guerra-santa-de-bolsonaro-surte-efeito-em-eleitores-evangelicos-e-lula-prepara-reacao.ghtml

[78] https://theintercept.com/2022/08/20/michelle-bolsonaro-a-voz-doce-do-odio/

[79] https://extra.globo.com/noticias/brasil/lideres-religiosos-repudiam-post-de-michelle-bolsonaro-que-mostra-lula-em-ritual-do-candomble-conceito-racista-25554222.html

[80] https://media-blog.genialinvestimentos.com.br/wp-content/uploads/2022/08/16180248/genial-nas- eleicoes_pesquisa-para-presidente-2022_resultado-agosto_20220817.pdf

[81] https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/08/19/nao-faz-parte-da-minha-cultura- politica-estabelecer-qualquer-principio-de-guerra-santa-diz-lula.ghtml

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