O Boletim #2 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No nono texto “Washington Reis e André Ceciliano: mapeando as
candidaturas de personagens da política local” (p. 48-54), a mestranda em Ciências Sociais Isabel Uchôa apresenta as candidaturas de dois personagens que surgiram da esfera da política local da Baixada Fluminense e que buscam alcançar cargos nas eleições majoritárias no estado do Rio de Janeiro: Washington Reis (MDB) e André Ceciliano (PT).

Confira o texto abaixo!

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Washington Reis e André Ceciliano: mapeando as candidaturas de personagens da política local
Isabel Uchôa [52]

Resumo O presente texto tem como objetivo apresentar as candidaturas de dois personagens que surgiram da esfera da política local da Baixada Fluminense e que buscam alcançar cargos nas eleições majoritárias no estado do Rio de Janeiro: Washington Reis (MDB) e André Ceciliano (PT). A nossa hipótese é que as disputas pelo Senado e pelo cargo de vice-governador do Rio de Janeiro estariam sendo influenciadas pela polarização entre os candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro e Lula da Silva. O artigo constitui o primeiro de uma série de boletins com a mesma temática que serão publicados nas próximas edições, abordando diferentes candidatos que têm como ponto em comum o surgimento como figura política em outros municípios do estado que não a capital.

Introdução

Desde 1988, com a promulgação da Constituição Brasileira vigente, a cidade do Rio de Janeiro, capital do estado, apresenta-se como um território decisivo nas eleições para senador e governador. Desde o ano da promulgação da Constituição vigente até o momento atual, 21 parlamentares já ocuparam o cargo de senador. Dentre os 21 senadores, apenas 5 não iniciaram suas trajetórias políticas tendo como base eleitoral a capital do estado, como foi o caso de Hydekel de Freitas, prefeito do município de Duque de Caxias do ano de 1982 a 1985 e senador pelo Rio de Janeiro de 1990 a 1995. Hydekel foi uma figura marcante na história do município e alcançou o Senado com uma forte base eleitoral sendo constituída pelos cidadãos de Duque de Caxias.

No caso dos governadores, de 11 governadores, apenas 5 construíram a base de seu eleitorado em outros municípios que não a capital do estado. O exgovernador Anthony Garotinho – que será personagem dos próximos boletins, uma vez que se apresenta como pré-candidato ao governo do estado novamente em 2022 – já foi prefeito de sua cidade natal, Campos dos Goytacazes, na qual governou duas vezes: de 1989 a 1998.

Nas pré-candidaturas ao governo do estado do Rio de Janeiro e ao Senado nas próximas eleições, podemos notar dois personagens importantes nas disputas: o ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB) e o ex-prefeito de Paracambi e atual deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), André Ceciliano (PT). Enquanto Reis foi anunciado como candidato a vice-governador na futura chapa da campanha de reeleição de Cláudio Castro (PL), o presidente da ALERJ irá disputar um assento no Senado em outubro.

Os candidatos

(a) Washington Reis e sua candidatura a vice-governador

Washington Reis (MDB) foi prefeito de Duque de Caxias de 2005 a 2008 e entre 2017 e 2022. Durante seus três governos, um elemento central que marcou a identidade no município foi a sua aproximação com os cidadãos. O ex-prefeito é conhecido por receber a população em sua casa em Xerém para ouvir e atender demandas pessoais, estimulando esse tipo de vínculo personalista e direto, em detrimento dos canais institucionais devidamente republicanos. Além disso, durante as eleições de 2020, Washington Reis fez uso como estratégia eleitoral da promoção dessa imagem pessoal ao utilizar como propaganda a divulgação de imagens das quais aparecia trabalhando em diversas profissões – como comerciante, por exemplo – junto aos moradores do município, buscando, assim, reforçar na campanha a percepção geral de uma personalidade política próxima de sua população. Mesmo com diversas polêmicas ao longo de sua trajetória como prefeito do município, como seu envolvimento com crimes ambientais, Reis ainda permanece com uma forte popularidade na região, tendo vencido as eleições municipais de 2020 como prefeito de Duque de Caxias ainda no 1º turno.

Washington Reis também é conhecido por suas boas relações políticas. Apesar de ter se aliado aos governos Lula no início de sua trajetória como prefeito, se uniu a Jair Bolsonaro em sua campanha de 2020, quando recebeu o apoio da família do presidente, que abriu mão de seu inicial candidato, Marcelo Dino (na época, do PSL), para apoiar Washington Reis. Em abril deste ano, Reis renunciou ao cargo de prefeito para disputar as eleições em outubro. Desde 2021, o ex-prefeito parecia avançar para uma candidatura ao Senado. Porém, com sua forte aliança com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, as intenções mostraram-se em ocupar o cargo de vice-governador a partir de 2023. Assim, Reis aproxima-se cada vez mais do presidente Jair Bolsonaro, que tem Castro como seu candidato para o governo do Rio. Um aspecto importante dessa decisão de abrir mão de sua campanha para senador e avançar em direção ao governo do estado seria que a sua vaga ao Senado já estaria ocupada por Romário (PL), candidato apoiado por Bolsonaro.

Reis e Castro, no entanto, tiveram um desentendimento em relação à eleição do novo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). O governador interferiu na votação ao pedir aos deputados estaduais votos para Márcio Pacheco (PSC), um dos principais adversários de Rosenverg Reis (MDB), irmão do ex-prefeito de Duque de Caxias, na disputa. Apesar disso, a aliança se manteve e Castro anunciou Washington Reis como seu vice-governador na sua campanha à reeleição. A précandidatura, porém, ainda não está oficializada. O desafio de Reis será conseguir sua elegibilidade de volta pelo Tribunal Regional Eleitoral, já que o ex-prefeito encontra-se, atualmente, inelegível[53].

(b) André Ceciliano e a disputa pelo Senado

André Ceciliano, filiado desde 1996 ao PT, foi prefeito de Paracambi por dois mandatos: de 2001 a 2008. Ao final de sua trajetória como prefeito do município, também concorreu à prefeitura de Japeri, ficando em segundo lugar na disputa. Anteriormente, de 1999 a 2000, foi deputado estadual do Rio de Janeiro, cargo que voltou a ocupar em 2011 e do qual permanece até hoje. Desde 2019 é o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

O ex-prefeito de Paracambi está na corrida ao Senado pelo Rio de Janeiro em 2022. Outros nomes que também têm a intenção de se candidatar são Romário (PL) e Alessandro Molon (PSB). No entanto, a disputa pela vaga tem gerado controvérsias por parte de Ceciliano e Molon, isso porque poderia estremecer a aliança PT-PSB nas eleições de 2022 no Senado. Em nível nacional, existe a construção de uma união entre os dois partidos na chapa Lula-Alckmin para a campanha presidencial. Na disputa pelo governo do estado do Rio, por sua vez, a aliança apoia a candidatura de Marcelo Freixo (PSB). Portanto, a disputa entre Ceciliano e Molon tensiona a aliança no campo político da esquerda na disputa pelo Senado, já que PT mantém o apoio a André Ceciliano, não havendo uma negociação entre os partidos para haver apenas um candidato. O partido, então, decidiu abrir mão da disputa do governo do estado, e não do Senado. Molon, todavia, recebe mais apoio do campo da esquerda, já que Ceciliano não é muito bem quisto por aqueles de seu campo no espectro político.

André Ceciliano, assim como Washington Reis, também possui boas relações com diversas figuras políticas. Essa relação amigável inclui, inclusive, personalidades bolsonaristas, como o governador Cláudio Castro e Otoni de Paula. Tal bom relacionamento com diversos vereadores e deputados estaduais proporcionam a ele acesso a diferentes territórios do estado, abrangendo seu potencial político como deputado e presidente da ALERJ. Esse trânsito político com personalidades de diferentes campos ideológicos que gera oportunidades parlamentares também acarreta atritos com seu partido, como foi o caso de seu voto favorável à privatização da Cedae. Esse e outros episódios controversos do deputado ocasionaram pedidos de expulsão do partido por parte de setores do PT. De discurso semelhante ao de Washington Reis, Ceciliano acredita que na região da Baixada Fluminense questões ideológicas são desprezíveis. Para ele, o que seria decisivo nesta localidade trataria-se da trajetória pessoal do candidato, uma visão que abraça uma prática mais personalista da política.

Ademais, as candidaturas de Romário e de Ceciliano para o Senado colocam a disputa entre Jair Bolsonaro e Lula em mais uma esfera nesta eleição. O presidente declara apoio a Romário, ambos do PL, enquanto Ceciliano é o candidato de Lula. Assim, esse confronto pode ser mais uma das disputas das eleições de 2022 estruturadas pelo embate Bolsonaro versus Lula.

Conclusão

A polarização entre as figuras de Jair Bolsonaro e Lula influenciará o voto nas demais disputas das eleições de 2022. Tanto a intenção de candidatura de Washington Reis como senador e, agora, como vice-governador do Rio de Janeiro estão delimitadas pelo apoio do atual presidente, sendo esse apoio, inclusive, fator de decisão para a retirada de sua pré-candidatura ao Senado. Da mesma maneira, a tensão entre os dois mais fortes candidatos à presidência da República também influenciará na disputa pelo Senado entre a candidatura de Ceciliano e de Romário, candidatos apoiados por Lula e por Bolsonaro, respectivamente. No entanto, o atrito entre Molon e Ceciliano poderá afetar o voto da esquerda e prejudicar o candidato petista.

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[52] Mestranda em Ciências Sociais pelo PPGCS/UFRRJ. Atua como pesquisadora no LAPPCOM e no NUDEB.

[53] No ano de 2016, Reis tornou-se inelegível após o Supremo Tribunal Federal (STF) condená-lo por crime ambiental. Em 2020, ano das últimas eleições municipais, ele conseguiu recorrer ao processo, foi eleito prefeito de Duque de Caxias e tomou posse do cargo. No entanto, pouco tempo depois, o STF o tornou novamente inelegível, mas sem perda de mandato. Atualmente, Washington Reis encontra-se neste entrave para concorrer às eleições de 2022 e cabe ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) conceder, ou não, o direito de disputá-las.

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