Um balanço do trabalho do Observatório do Conhecimento em 2022

2022 foi um ano de muito trabalho e muitas realizações no Observatório do Conhecimento. O trabalho foi desenvolvido a partir de cinco eixos temáticos: monitoramento do Orçamento Do Conhecimento da Ciência e Educação Superior, Lei de Cotas, a discussão sobre as mulheres na Ciência, o pacto pelo conhecimento e a liberdade acadêmica, e tudo isso sem deixar de lado a atuação junto ao legislativo em defesa dos princípio de políticas pública defendidos pelo Observatório.

“Acho que foi nosso melhor ano”, avaliou a professora da UFRJ Mayra Goulart, coordenadora do Observatório do Conhecimento. “Ampliamos a nossa incidência tanto na sociedade civil, quando fazemos um documentário que repercute na comunidade universitária, quando também fazemos as nossas campanhas e elas também incidem na sociedade através das redes”, explicou a professora. Para ela, o Observatório também teve um papel importante no cenário político. “Nos inserimos não só na sociedade civil, mas incidimos, em um contexto de uma eleição crucial para democracia brasileira, também no parlamento. Conseguimos participar dos grandes momentos do parlamento no tocante à questão da educação superior, sobretudo da Ciência e Tecnologia”, acrescentou.

O professor da UFBA Daniel Peres, representante da APUB no Observatório, reforçou o papel que a rede teve na produção de informações relevantes para a sociedade. “Conseguimos avançar numa melhor relação com a imprensa, em grande medida justamente por apresentarmos dados muito relevantes que consubstanciavam nossas posições”, disse. Para ele, o Observatório também teve um papel importante na aproximação entre o movimento docente e a comunidade científica. “Apesar de mais de 90% da ciência no Brasil ser feita no interior das universidades públicas, e, portanto, por professores, pós-graduandos e pesquisadores, a comunidade científica, interna às universidades, nunca se envolveu, a não ser com raras exceções, com o movimento docente. O que o observatório vem mostrar é que um espaço enorme para ser trabalhado e conquistado, e que some muito na defesa da universidade e do conhecimento”, avaliou.

“O Observatório do Conhecimento em 2022 avançou em pautas de extrema importância como a das mulheres na ciência e da liberdade acadêmica”, avaliou a professora Andréa Stinghen, diretora da APUFPR. “O nosso filme ‘Ciência: Luta de Mulher’ nos levou a refletir e pensar em temas como a maternidade e a ciência, o quão elitista é a Ciência, ainda mais para a mulher preta, pobre e periférica”, disse. “Ao meu ver, inserir-se em pautas como estas demonstra o quanto ainda temos que avançar, denunciando cortes no conhecimento, na Educação e Ciência”, acrescentou.

ORÇAMENTO DO CONHECIMENTO

Em 2022, o Observatório aprofundou seu monitoramento do chamado Orçamento do Conhecimento, que reúne os orçamentos da Educação Superior e da Ciência e Tecnologia. Lançado em maio, o Balanço do Orçamento do Conhecimento mostrou que o Brasil perdeu R$ 83,8 bilhões no orçamento federal da educação superior e da Ciência, nos últimos sete anos, e que no final deste ano, as perdas chegariam a próximo de R$ 100 bilhões. Em novembro, foi lançado o balanço da PLOA 2023, que mostrou que a proposta do governo Bolsonaro para o orçamento da Ciência, Tecnologia e Educação Superior para 2023 é equivalente à de 15 anos atrás.

MULHERES NA CIÊNCIA

O Observatório do Conhecimento lançou, em abril, o filme “Ciência: luta de mulher”, que conta a história de quatro pesquisadoras de diferentes regiões do Brasil, Helena Padilha, professora aposentada da UFPE, Maria da Glória Teixeira, professora de Medicina da UFBA, Isis Abel, professora da UFPA, e Nina da Hora, cientista da Computação e pesquisadora de temas ligados à segurança digital. O filme foi lançado em Brasília, com a presença de cientistas, professoras da educação básica, representantes sindicais e do Congresso. O filme também foi exibido pelas entidades que fazem parte do Observatório, em escolas públicas e para outros grupos de estudantes de ensino Fundamental e Médio pelo país. O documentário está disponível no YouTube.

PACTO PELO CONHECIMENTO

Em outubro, o Observatório lançou o Pacto pelo Conhecimento, uma carta compromisso em cinco pontos, como a recomposição do orçamento do conhecimento, reajuste dos valores das bolsas de pesquisas e uma política que garanta a autonomia das instituições de ensino

e convidou candidatos comprometidos com a liberdade acadêmica, a autonomia universitária e o financiamento adequado para as pesquisas a assinar o compromisso. Dos 49 signatários do Pacto pelo Conhecimento, 20 se elegeram. Serão 11 deputados e deputadas federais e oito representantes em assembleias estaduais comprometidos com a Ciência. Teresa Leitão, eleita para o Senado, também assinou o Pacto.

LEI DE COTAS

A Lei de Cotas para o Ensino Superior completou dez anos em 2022, prazo previsto pela própria legislação para ser revista. Para qualificar o debate em defesa das cotas, o Observatório organizou, em parceria com a Perifa Connection e a Coalizão Negra por Direitos a campanha “Um passo pra dentro e muitos pro mundo”, que ´promoveu o debate sobre as cotas nas universidades, apresentando argumentos favoráveis à política para os integrantes da comunidade acadêmica. Na UFRJ, a campanha contou com um grupo de mobilizadores que percorreu os campi da universidade fazendo panfletagens e passando nas salas de aula para explicar a importância das cotas. A universidade também recebeu um debate, organizado pela campanha, que contou com a presença da jornalista Míriam Leitão, Wesley Teixeira e Eduardo Carvalho.

O Observatório também participou da divulgação do manifesto Ciência, Tecnologia e Inovação com Lula, que contou com a assinatura de mais de 14 mil pesquisadores e pesquisadoras brasileiros.

LIBERDADE ACADÊMICA

O Observatório do Conhecimento, o Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT) e o Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) apresentaram, em julho, a primeira fase de resultados da pesquisa “A liberdade acadêmica está em risco no Brasil?”, que trouxe dados alarmantes sobre a segurança para fazer Ciência no Brasil. Dos 1.116 cientistas que participaram da pesquisa, 58% afirmaram que conhecem experiências de pessoas que já sofreram limitações ou interferências indevidas em suas pesquisas ou aulas.

AÇÕES COM O LEGISLATIVO

Em 2022 o Observatório também intensificou suas ações junto ao Poder Legislativo. A rede estreitou o contato com a Frente Parlamentar pela Educação, e realizou diversas ações junto ao presidente da frente, o deputado Professor Israel (PSB-DF), como a apresentação do Balanço do Orçamento do Conhecimento e da PLOA. O grupo também reuniu-se com o presidente da Comissão de Educação da Câmara, Kim Kataguiri (União-SP) e com o relator do orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI) para apresentar a demanda da recomposição do orçamento das universidades e da pesquisa para 2023. 

Os desafios e projetos para 2023

No ano que vem, o Observatório pretende manter seus principais eixos temáticos. A ideia é produzir um novo documentário sobre mulheres na Ciência, mas agora apresentando a questão da sub-representação interseccional de mulheres no campo da ciência sob a perspectiva das meninas. O Orçamento do Conhecimento também vai continuar sendo acompanhado de perto.

A rede também vai elaborar pesquisas para municiar os tomadores de decisão e parlamentares de informações de qualidade. Uma das propostas é fazer um inventário da destruição, uma pesquisa que levante os projetos que deixaram de ser apoiados por causa da falta de recursos. A defesa das cotas e da autonomia universitária também estarão entre as frentes de trabalho do Observatório no ano que vem.

“No ano que vem nós vamos poder ter uma atuação menos reativa de defesa da ciência, já que não teremos mais um governo que trata a universidade como ameaça”, avaliou a professora Mayra Goulart. “Teremos um papel mais propositivo, atuando junto com o novo governo para pensar como que a Ciência e a universidade podem estar no centro desse projeto de reconstrução do Brasil pós-Bolsonaro”, acrescentou.

A professora Monica Stival, da UFSCar, representante da ADUFSCar no Observatório, também acredita que a rede vai ter uma participação política maior em 2023. “Teremos um ano muito desafiador, e o governo vai precisar de apoio da sociedade civil. Nós, enquanto organização, devemos ter uma participação política maior na defesa da Educação e da Ciência e Tecnologia”, avaliou a professora. “Vale destacar também a possibilidade de fortalecimento e de crescimento Observatório como uma rede que pode agregar outras universidades, outras entidades”, acrescentou.

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