O Boletim #9 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

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Confira o texto abaixo!

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O antipetismo no estado de São Paulo: uma força ainda mobilizadora nas eleições de 2022
Allegra Levandoski[49]

Resumo

O presente artigo é resultado de um esforço analítico acerca das eleições de 2022 no estado de São Paulo. Um trabalho que compõe a série de textos referentes ao projeto multidisciplinar Monitoramento Eleitoral 2022 (OPEL). O boletim analisa, de forma sumária, a influência do antipetismo como força mobilizadora nas eleições para Presidência da República e governo estadual. Trata-se de uma reflexão que em parte rememora a predominância política do PSDB no estado paulista nas últimas décadas, assim como a posição central que a região teve no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ─ assim como a vitória BolsoDória em 2018.

Introdução

As eleições de 2022 se revelaram como um fenômeno único na história do país. Com candidaturas polarizadas, um cenário de ampla crise econômica e escândalos de corrupção, o resultado do pleito se revela como determinante para concretizar uma das duas distintas trajetórias: o retorno de um padrão político de bem-estar social representado por Luiz Inácio Lula da Silva, ou a consolidação institucional de um novo projeto que revelou os seus primeiros traços em meados de 2015 e tem como expressão máxima Jair Messias Bolsonaro.

Após os resultados catastróficos da gestão bolsonarista à frente do Executivo Nacional ─ o qual resultou na morte de mais de meio milhão de pessoas da COVID-19, e crescente ataque às instituições democráticas e desprestígio do país afora ─, o previsto por alguns cientistas políticos era de vitória lulista no primeiro turno, inclusive, em estados como o de São Paulo no qual o anti-bolsonarismo se revelava uma força evidente.

Contudo, os resultados do primeiro turno da eleição presidencial, para governo estadual e Senado do estado de São Paulo revelaram um cenário diferente; a permanência do bolsonarismo como uma instância competitiva e 47.71% dos votos para Bolsonaro, em contraste a 40,89% de Lula. Como compreender esse acontecimento?

É nesse cenário que há a possibilidade de identificar aquilo que o analista político Felipe Moura em entrevista ao Estadão[50] sugere como resultado do “voto envergonhado”, o que não foi capturado pelas pesquisas e, como terceiro fator decisivo, o antipetismo.

O antipetismo no estado de São Paulo e a recuperação de um passado psdbista

A permanência do antipetismo em contraste a Bolsonaro e seus aliados no Sudeste, mesmo após pesquisas do DataFolha[51] sugerirem que 64% dos paulistas afirmarem que não votariam em nenhum candidato apoiado pelo atual presidente da República.

O antipetismo paulista pode ser reconstruído de diversas formas, uma delas é através da recuperação do longo histórico de disputas políticas caracterizadas pela vitória do PSDB ao governo do estado de São Paulo em oposição ao Partido dos Trabalhadores. O resultado disso foi o que se tornou vulgarmente conhecido como “Tucanistão”, expressão utilizada para sintetizar o domínio da sigla partidária na região.

Mas o predomínio do PSDB no estado não é suficiente para explicar o antipetismo, e muito menos sua correlação com os resultados do pleito de 2022. Uma melhor explicação exige considerar o processo social-político que tomou forma nas ruas a partir das Jornadas de Junho de 2013. Mais especificamente, entre 2015 e 2016 com o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

O centro do impeachment de Rousseff e as eleições de 2018 no estado de São Paulo

Em 13 de março de 2016, foi registrado na Avenida Paulista o que se considera a maior manifestação política já registrada na cidade de São Paulo desde a redemocratização do país. O protesto que tinha entre as suas pautas o impedimento de Dilma, a prisão de Lula e a defesa da Lava Jato reuniu, de acordo com dados do Datafolha[52], cerca de 500 mil pessoas. Trata-se de apenas uma das diversas mobilizações que ganharam forma pela cidade e arredores do estado.

Cabe rememorar as votação de dois milhões de votos de Janaína Paschoal à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, assim como a coalizão BolsoDória no mesmo período. São apenas alguns dos exemplos concretos do movimento sincrético entre a nova direita conservadora-bolsonarista e alas do PSDB.

Apesar dos desgastes dos quatro anos de mandato de Bolsonaro, este aparentemente não se revelou como suficiente para garantir a vitória da esquerda. A ascensão de 19 deputados estaduais do Partido Liberal (PL) na Assembleia Legislativa de São Paulo ─ a maior bancada da casa ─ a vitória de Marcos Pontes sob Márcio França para o Senado e, por fim, a vantagem percentual de Tarcísio Freitas em relação a Fernando Haddad.

Conclusões

Analistas e os mais diversos estudiosos de ciência política se esforçam para realizar diagnósticos e, em casos mais ousados, previsões, acerca do presente. As dificuldades são múltiplas e este breve texto busca se apresentar apenas como um passo inicial em direção à uma análise mais complexa acerca do bolsonarismo no Brasil.

O antipetismo como movimento e reação política se configura como uma etapa essencial para entender o cenário de 2022, como sutil rejeição aos seus líderes. Apesar de alguns sugerirem que a atual disputa reforçou a centralidade do PT como organizador do sistema partidário brasileiro, assim aglutinador da esquerda, é importante não perder a análise micro de cada região.

Em conclusão, defende-se que o antipetismo continua como agente mobilizador de eleitores, em especial no maior colégio eleitoral do país e sua potência decisória no segundo turno nas eleições de presidente e governador do dia 30 de outubro.

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[49] Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. É pesquisadora do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (LAPPCOM) da UFRJ e do Observatório Político e Eleitoral (OPEL).

[50] Moura, F. “São Paulo demonstrou que o antipetismo ainda é muito forte”, Estado de São Paulo, 2022. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=9XoI0X1fmes&t=916s

[51] “Datafolha: Bolsonaro é o padrinho que mais atrapalha em SP”, Folha de S.Paulo, São Paulo, 1 de jul, de 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/07/datafolha-bolsonaro-e-o- padrinho-que-mais-atrapalha-em-sp.shtml

[52] “Maior manifestação política da história de SP reúne 500 mil na Paulista”, Datafolha, São Paulo, 14 de março de 2016. Disponível em: https://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2016/03/1749713- maior-manifestacao-politica-da-historia-de-sp-reune-500-mil-na-paulista.shtml

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