O Boletim #2 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No décimo terceiro texto “Marcelo Freixo vs. Cláudio Castro: análise comportamental das candidaturas” (p. 83-89), a pesquisadora Larissa Mendes analisa o comportamento dos candidatos a governador do Estado do Rio de Janeiro.

Confira o texto abaixo!

_____
Marcelo Freixo vs Cláudio Castro: análise comportamental das candidaturas

Larrisa Mendes

Resumo O presente texto faz parte da pesquisa do Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo analisar o comportamento dos candidatos a governador do Estado do Rio de Janeiro. Para isso, nesse segundo boletim, tem como proposta comparar o posicionamento de Marcelo Freixo (PSB) e Cláudio Castro (PL) nos anos de 2018 e fazer uma ponte para traçar o que mudou ou permaneceu no discurso de cada um deles no ano de 2022. Nossa hipótese é que embora exista estratégia política de conciliação de Marcelo Freixo (parecida com a de Lula), ainda não será suficiente para superar o representante da ultradireita, Cláudio Castro, que com a mesma estratégia política de 2018, pode ser reeleito. Em suposição, a tentativa de nacionalização das eleições estaduais pode não funcionar no Rio de Janeiro, por existir uma variável conservadora que impede o avanço da esquerda progressista.

Análise comportamental dos candidatos 2018

Em um vídeo de dezembro de 2018[211], Marcelo Freixo que estava como Deputado Estadual pelo PSOL cedia uma entrevista com a Miriam Leitão, onde o tema central era a defesa dos Direitos Humanos, mas em uma outra chave, a chave de quebrar a visão pejorativa de que os Direitos Humanos só defendem bandido. Para isso, como presidia a Comissão de Direitos Humanos, criou uma lei e ações que forçaram o Estado a prestar assistência psicológica e jurídica para os familiares dos policiais vitimados em serviço e de agentes penitenciários. Esse resultado só foi possível dada a parceria com o comando da Polícia Militar, movimento que tentou quebrar essa lógica de que Marcelo Freixo só defende bandido, inclusive a disseminação dessa lógica deve voltar a tomar força meses antes da eleição, principalmente partindo do seu opositor, Cláudio Castro.

Além disso, nessa mesma entrevista cedida a Globo News[212], Marcelo Freixo pontuava o trabalho que também presidiu, a CPI das Milícias, trabalho que custa até hoje a sua segurança, já que a milícia tem um domínio muito forte no Estado do Rio de Janeiro e adentra o campo político eleitoral. Desde toda a sua trajetória como parlamentar, o combate contra a família Bolsonaro sempre esteve presente, inclusive uma oposição direta a Flávio Bolsonaro (PSL) na votação para presidente da Alerj[213], onde Flávio Bolsonaro era a favor de Jorge Picciani (MDB) e Marcelo Freixo era uma oposição direta ao partido e seus apoiadores. Existem diversos outros embates, o que mostra que essa polarização já vem ao longo de alguns anos tencionando o cenário político.

A questão de Segurança Pública, tema com grande disputa de narrativa, mostrava que Marcelo Freixo tinha em seu discurso que políticos eleitos democraticamente estimulavam a retirada de Direitos Humanos da abordagem da polícia, alegando que assim seria possível ter mais Segurança Pública, sendo ela mais eficiente sob a ótica da ultradireita[214]. Segundo Freixo, isso possibilita que diversas pessoas fossem vítimas de um confronto que causava vítimas de diversos lados, tanto dos policiais quanto de moradores, que não deixa de ser um processo que de fato acontece, como aponta a pesquisa mostrada pelo Folha de São Paulo[215]. Em 74 operações já realizadas na gestão de Cláudio Castro, já são 330 civis mortos, operações que descumpriram a medida do Superior Tribunal Federal de suspensão das operações durante a pandemia.

Um problema prático na trajetória política de Marcelo Freixo é que, a população, em específico da capital fluminense, é mais imediatista na resolução dos problemas, o que faz com que as pessoas sintam-se mais atraídas por soluções práticas do que com propostas que podem levar tempo. Isto quer dizer que Freixo antes apresentava propostas no campo da Segurança Pública como a CPI do Tráfico de Armas e Munições elaborada em 2011. Isso pode ser um dos fatores que causam enfraquecimento em sua atuação política, porque principalmente neste campo, as pessoas tendem a achar que o confronto é o meio mais eficiente para romper com o crime organizado. Questão essa que faz com que as pessoas pensem também que CPIs não resolvem e não geram resultado.

Por outro lado, já em discursos analisados de Cláudio Castro, podemos perceber que sua carreira política é construída de forma recente e suas propostas e vídeos no ano de 2018 não tem alcance a nível de mobilização, sendo visto por poucas pessoas. Entretanto, Castro veio junto com Wilson Witzel em um momento em que o bolsonarismo estava forte no Rio de Janeiro, mostrando que há um discurso que age como a “chave do sucesso”, principalmente para a direita e agora com a ultradireita. Quando se fala em “chave do sucesso”, há um discurso que agrada muitos eleitores na hora do voto, um dos temas de maior relevância é o de Segurança Pública, um discurso que foi utilizado e que deu certo no discurso de figuras alinhadas ao bolsonarismo.

Desde o ano de 2018, o direcionamento às políticas de Segurança Pública esteve contido de forma central nas campanhas e gestão tanto de Wilson Witzel, quanto de Cláudio Castro. No entanto, o discurso direcionado ao tema começa aparece em fevereiro de 2018216, onde Castro aparece no Observatório Legislativo da Intervenção Federal na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (OLERJ), onde o objetivo era mobilizar coleta de dados, estudos e pesquisas no intuito de resolver o problema de Segurança Pública a longo prazo.

Já em abril do mesmo ano, em alguns discursos e discussão como vereador do Rio de Janeiro, havia um discurso alinhado ao de Bolsonaro, principalmente no campo da educação, onde além de discutir a educação de forma geral, direcionou o seu posicionamento ao tema que o elegeu, que foi a defesa de pessoas com deficiência e, além disso, se posicionou contra ao que chamou de “tentativa da implementação de ideologia de gênero nas escolas”[217], onde foi aprovado no Plano Municipal de Educação.

Em outro ponto, o fator da religião também é um tema central na atuação política de Cláudio Castro, onde em diversos vídeos há publicações direcionadas a sua participação Católica e em defesa da fé cristã, como em um vídeo publicado na sua defesa na câmara dos vereadores do Rio de Janeiro em agosto de 2018[218]. Pode-se ver isto de forma mais direta em um dos seus vídeos de pré-campanha[219], o que já mostrava que a religião seria o ponto focal da pré-campanha e campanha de forma geral.

Em conclusão, a ultradireita parece ter entendido que a “chave do sucesso” está na tríade 1) Religião; 2) Segurança Pública e; 3) Conservadorismo[220]. E como veremos abaixo, vai ser a estratégia que permanecerá na campanha de Castro, justo por ser a movimentação que deu certo para ele no ano de 2018.

Análise comportamental dos candidatos 2022

Em uma análise de 2022, Freixo continua forte no combate à milícia e também ao tráfico, mas aponta que a milícia é o único poder paralelo que consegue transformar o domínio territorial em domínio eleitoral[221]. Com esta afirmação, é importante reiterar que os espaços dominados por milícias são mais eficientes no controle das pessoas do que o próprio tráfico[222], o que evidencia que isso pode custar caro à eleição de Marcelo Freixo, que crava uma briga direta com a milícia.

Em continuidade, a milícia tem domínio forte na Zona Oeste do Rio de Janeiro, sendo uma das maiores seções eleitorais na disputa eleitoral, o que o fragiliza ainda mais na eleição para governador contra Cláudio Castro. Freixo também faz uma estratégia política parecida com a de Lula, utilizando-se da política de conciliação e reestruturação da esquerda com setores políticos específicos, como os evangélicos. Isto quer dizer que, existem setores que Marcelo Freixo quer trazer para o seu eleitorado e, para isso, seu discurso se modifica para conquistá-los.

Neste ínterim, Marcelo Freixo faz uma movimentação direta contra Cláudio Castro em sua rede do Instagram, a fim de enfraquecê-lo na disputa[223]. Entretanto, não há dúvidas de que será preciso mais do que isso para enfraquecê-lo, como aponta a matéria do Veja[224]. Segundo o Instituto Paraná Pesquisas, que mostra que Cláudio Castro tem 23,2% das intenções de voto e Marcelo Freixo aparece com 21,4%, mostra que desde o início das pesquisas de intenções de voto, Castro virou em relação às projeções anteriores que mostravam Freixo na frente da disputa. Isso mostra que, mesmo empatados na margem de erro, há uma movimentação de virada. Os dados ainda apontam que, o maior índice de rejeição ocorre para o Marcelo Freixo que possui 45,7%, contra 36,3% nesta mesma comparação com Cláudio Castro.

Por outro lado, Cláudio Castro faz a movimentação contrária a de Bolsonaro mesmo sendo seu aliado declarado. Isso aparece na relação de estímulo à vacinação contra a COVID-19, mas em contrapartida, como esperava-se, o tema de Segurança Pública é o amuleto de sua trajetória e pré-campanha eleitoral. Por isso, criou o Cidade Integrada[225], que tinha como proposta combater o tráfico e a milícia, porém, a atuação da polícia tem se voltado diretamente para as favelas do Rio de Janeiro, nenhuma delas comandadas por milícias.

Além do projeto “Cidade Integrada”, lançou também o programa “Segurança presente”, “Bairro seguro” e “Patrulha Maria da Penha: guardiões da vida” a fim de conquistar o eleitorado das mulheres. Criou o núcleo de atendimento de familiares vítimas de feminicídio e treinamento de policiais militares voltados para a garantia de asseguramento de medidas protetivas[226]. Com isso, Castro vem para conquistar o eleitorado feminino, já que há uma resistência neste setor, procurando inclusive uma vice-governadora para cumprir este papel.

A campanha de reeleição tende a ficar cada vez mais favorável a Cláudio Castro a partir do momento em que foca em setores que têm resistência em aderir votos na sua campanha, e também, o direcionamento para o campo religioso, fortifica ainda mais sua trajetória na disputa política. Seguindo sua estratégia, Castro se coloca contrário à nacionalização da disputa, o que ele não quer transformar em uma esfera polarizada. Para isso, já afirmou que mesmo sendo aliado de Bolsonaro, não vai criticar Lula.

Esta movimentação é o oposto do que Marcelo Freixo vem fazendo, vinculando inteiramente sua imagem ao de Lula e tentando nacionalizar a disputa para o governo do Rio de Janeiro. E terminou por reafirmar a imagem de Marcelo Freixo, alegando ser defensor da Polícia e não de bandido[227]. Por fim, quer conquistar voto da esquerda, ganhando mais um setor do eleitorado, já que não nacionalizando a disputa ao governo do Rio de Janeiro, há grande chance de sua reeleição já que Lula se apresenta como um candidato forte para ganhar a eleição presidencial. E, mesmo estando aliado de Bolsonaro e, consequentemente, ao bolsonarismo, Castro está disposto a conciliação de outros setores para sair eleito.

Considerações finais

Em conclusão, o trabalho de Monitoramento Eleitoral no mês de julho consistirá em fazer uma análise também das redes sociais, mas agora voltada para o propósito eleitoral e de campanha de cada um deles. O objetivo será mapear e traçar as propostas principais na disputa para governador do Rio de Janeiro. E por fim, estruturar as prioridades de campanha que estão sendo apresentadas para a conquista dos votos.

_____

[211] [212] LEITÃO, Miriam. Entrevista com Marcelo Freixo. In: Globo News. Disponível em: . Acesso em: 09 de jun. de 2022.

[213] FREIXO, Marcelo. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/Bq0LzOVHrmu/. Acesso em: 9 de jun. de 2022.

[214] FREIXO, Marcelo. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/Bp2jGQlncDh/. Acesso em: 9 de jun. de 2022.

[215] Albuquerque, A. Gestão Castro acumula 330 mortos em 74 operações policiais no RJ, indica estudo. In: Folha de S.Paulo, 25 de mai. de 2022. Disponível em: . Acesso em: 20 de jun. de 2022.

[216] CASTRO, Cláudio. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/BflrewOlprL/. Acesso em: 14 de jun. de 2022.

[217] CASTRO, Cláudio. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/BnFcgsoBXrc/. Acesso em: 14 de jun. de 2022.

[218] CASTRO, Cláudio. Disponível em: . Acesso em: 14 de jun. de 2022.

[219] CASTRO, Cláudio. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/BoXYfy4hq3s/. Acesso em: 14 de jun. de 2022.

[220] CASTRO, Cláudio. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/BofAic9B_I_/. Acesso em: 14 de jun. de 2022.

[221] CASTRO, Cláudio. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/CZeZtkooabn/. Acesso em: 14 de jun. de 2022.

[222] SATRIANO, Nicolás. Rio tem 3,7 milhões de habitantes em áreas dominadas pelo crime organizado; milícia controla 57% da área da cidade, diz estudo. In: G1, 19 de out. de 2020. Disponível em: . Acesso em: 14 de jun. de 2022.

[223] FREIXO, Marcelo. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/CcjKjVrgUc_/. Acesso em: 14 de jun. de 2022.

[224] Silva, José. Rio: Cláudio Castro e Marcelo Freixo estão empatados em disputa ao governo. In: Veja, 6 de jun. de 2022. Disponível em: . Acesso em: 15 de jun. de 2022.

[225] CASTRO, Cláudio. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/CYJ_pzLl9yr/. Acesso em: 15 de jun. de 2022.

[226] CASTRO, Cláudio. Disponível em: https://www.instagram.com/tv/CYRd4Jalb4M/. Acesso em: 15 de jun. de 2022.

[227] Mello, Bernardo; Sabóia, Gabriel e; Prado, Thiago. Cláudio Castro diz, em entrevista, que apoia Bolsonaro, mas não vai criticar Lula. In: O Globo, 16 de mai. de 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/eleicoes/2022/noticia/2022/05/16/castro-diz-que-apoia-bolsonaro-mas-nao-vai-criticar-lula.ghtml. Acesso em: 15 de jun. de 2022

Deixe um Comentário





oito − 4 =