O Boletim #1 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No décimo terceiro texto “Marcelo Freixo versus Cláudio Castro nas eleições de 2022 para Governador do Rio de Janeiro: monitoramento das candidaturas” (p. 73-78), a graduanda em Ciências Sociais Larrisa Mendes estuda a disputa à governança do estado do Rio de Janeiro. O boletim tem como proposta inicial apresentar um panorama geral dos dois candidatos mais bem colocados na pesquisa: Marcelo Freixo (PSB) e Cláudio Castro (PL). O texto busca analisar as primeiras pesquisas de intenções de voto, e assim, monitorar possíveis vantagens e desvantagens dos candidatos nos próximos meses.

Confira o texto abaixo!

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Marcelo Freixo versus Cláudio Castro nas eleições de 2022 para Governador do Rio de Janeiro: monitoramento das candidaturas
Larissa Mendes [149]

Resumo O presente texto faz parte da pesquisa do Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo analisar a disputa para governador no Estado do Rio de Janeiro. Para isso, nesse primeiro boletim, tem como proposta inicial apresentar um panorama geral dos dois candidatos mais bem colocados na pesquisa, que são: Marcelo Freixo (PSB) e Cláudio Castro (PL). O texto busca analisar as primeiras pesquisas de intenções de voto, e assim, monitorar possíveis vantagens e desvantagens dos candidatos nos próximos meses.

Nossa hipótese é que a eleição do Rio de Janeiro será tão polarizada quanto a disputa presidencial. Contudo, se no plano nacional o bolsonarismo vem perdendo força, e hoje as pesquisas indicam vitória de Lula no 1o turno, no plano estadual é diferente: Bolsonaro segue forte no Rio de Janeiro e seu candidato, o atual governador Cláudio Castro, lidera a maioria das pesquisas. Em suma, a polarização no Rio de Janeiro se apresenta com uma força que o bolsonarismo não vem apresentando em outros estados da Região Sudeste. Para tal estudo, foram utilizadas as fontes do Datafolha, Gazeta do Povo, O Globo, G1 e fontes relacionadas.

Breve histórico das eleições para o governo do Rio de Janeiro

As eleições de 2018 no Rio de Janeiro foram marcadas pela força do fenômeno político do bolsonarismo. Ao longo de toda a disputa o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, liderou as pesquisas e aparecia como favorito. No entanto, na última semana, as intenções de voto deram um salto discrepante em comparação com as pesquisas anteriores. Wilson Witzel, do PSC, era então um exadvogado e ex-juiz desconhecido. Segundo o Datafolha, ele tinha 11% das intenções de voto em 04 de outubro. Em 06 de outubro, véspera do pleito, saltou para 17%, já em segundo lugar [150]. Quando as urnas foram abertas, Witzel alcançou 40% dos votos e passou para o 2o turno na liderança151 e como favorito a conquistar o governo, o que de fato ocorreu: Witzel foi eleito com 59,87%, o que representava o voto de 4.675.355 de pessoas. Em seguida, Eduardo Paes aparecia com 40,13% dos votos, tendo alcançado 3.134.400 de pessoas [152].

O resultado eleitoral de 2018 apresenta diversas características distintivas que podem nos ajudar a entender o que ocorreu: 1) Uso do WhatsApp para a disseminação de Fake News sobre os seus oponentes eleitorais; 2) contexto de crise histórica do PT e antipetismo construído de forma sólida nos rumos eleitorais no Brasil e no Rio; 3) Por fim, o discurso conservador sobre segurança pública e anticorrupção ganhava força no campo de disputa eleitoral.

Em síntese, considerar a eleição passada é fundamental para analisar o cenário político de disputa atual uma vez que a nossa hipótese pressupõe a manutenção da força do bolsonarismo no Estado em um patamar maior do que este vem apresentando no plano nacional.

O quadro da eleição em 2022

A disputa para governador do Rio de Janeiro se desenha pelas intenções de voto direcionadas a Cláudio Castro (PL), atual governador e que era vice de Witzel e assumiu quando este sofreu impeachment em 2021 e Marcelo Freixo, do PSB, deputado federal, duas vezes segundo lugar nas eleições para a prefeitura do Rio de Janeiro e um parlamentares mais bem votados do Estado, alcançando o segundo lugar na disputa para federal, conquistando 342.491 votos [153] , ficando atrás apenas de Hélio Lopes (PSL), aliado de Bolsonaro.

A pesquisa IPEC de 24 de maio de 2022 colocou os dois em empate técnico, com 16% e 15% respectivamente. Esta pesquisa apresentou ainda o ex-prefeito Marcelo Crivella como candidato, também com 16% [154]. Contudo, o bispo da Universal já anunciou que não concorrerá ao executivo estadual. A maioria dos seus votos deve migrar para Castro ou outro candidato de extrema direita, o que reforça nossa hipótese sobre a força do bolsonarismo no Rio de Janeiro.

Além disso, cabe destacar que o monitoramento das eleições do Rio de Janeiro precisa atentar-se para o movimento de tentativa de quebra da polarização no ano de 2022 por parte de pelo menos três candidatos: Rodrigo Neves (PDT), Felipe Santa Cruz (PSD) e Paulo Gamine (NOVO) correm nesta disputa eleitoral para propor essa quebra e, romper com esse fenômeno que tem sido decisivo na escolha dos candidatos. Por fim, há a pré-candidatura do ex-governador Anthony Garotinho, pelo União Brasil. Embora seu partido apoie Castro e ocupe postos importantes no governo Estadual, Garotinho vem sustentando sua candidatura em tom bastante crítico contra o atual governador. Caso ele se mantenha, pode dividir os votos bolsonaristas no Estado, especialmente entre o eleitorado evangélico.

Quanto aos dois candidatos principais, entendemos que as pesquisas, até o momento, indicam um potencial de crescimento de Freixo uma vez que mudou de partido. Contudo, até onde por ir esse crescimento ainda é uma incógnita quanto ao resultado eleitoral.

Freixo saiu do PSOL por considerar que o partido não tem capacidade de ampliação necessária para uma eleição majoritária. De fato, o histórico psolista em disputas para o executivo é modesto, o que contrasta com o desempenho partidário nas disputas do legislativo em todas as esferas. Desde a fundação do partido em 2006, o PSOL nunca elegeu um governador e elegeu apenas um prefeito de capital, em Macapá, em 2012, mas não conseguiu viabilizar uma governabilidade para o prefeito Clécio Vieira, que acabou deixando o partido em 2015. No Rio de Janeiro, ficou em segundo lugar duas vezes, em 2012 e 2016, sempre com Marcelo Freixo.

Em 2020, ele abriu mão de ser novamente candidato a prefeito da capital por conta do isolamento psolista e fragmentação do campo progressista. A ida para o PSB resolveu essa questão, pois trata-se de um partido que, desde sua fundação em 1988, conquista governos estaduais e municipais. Nas eleições mais recentes ( 2018 e 2020) os socialistas elegeram 4 governadores e 254 prefeitos. Assim, hoje Freixo é apoiado por outros cinco partidos (PT, PV, PC do B, PSOL e REDE). Contudo, a mudança para o PSB pode não se apresentar como uma solução para frear o bolsonarismo, uma vez que isso não garante que a sua imagem será desvinculada do PSOL, partido ao qual participou durante dezesseis anos, e que é estigmatizado em parte significativa do eleitorado.

Já Castro começou sua vida política em 2004 como chefe de gabinete de Márcio Pacheco, com quem contribuiu até 2016 na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. No ano de 2012, tentou se eleger vereador sem sucesso, obtendo apenas 8.298 dos votos. Em 2016, finalmente, ele foi eleito para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro com mais de 10.200 votos. E recentemente, iniciou seu mandato como vice-governador na chapa com Wilson Witzel até seu afastamento definitivo.

A pesquisa do Datafolha de 08 de abril de 2022 mostra que o governo Castro tem 18% de aprovação, 25% de reprovação e 44% de regular. São números melhores que os apresentados pelo governo federal no Estado do Rio, onde Bolsonaro é reprovado por 48% do eleitorado, 23% como regular e 27% de aprovação. O dilema de Castro é como calibrar sua relação com o presidente. Por um lado, a aprovação de Bolsonaro é maior que a dele e colar no mandatário pode ajudar o governador a crescer nas pesquisas. Por outro, ele pode se “contaminado” pela reprovação, o que tornaria sua reeleição mais difícil. Segundo o Datafolha, 63% dos entrevistados disseram não votar “de jeito nenhum” em um candidato apoiado por Jair Bolsonaro, enquanto 19% disseram não saber se votariam caso tivesse o apoio do atual presidente. Com isso, restariam apenas 16% que disseram votar com certeza em um candidato apoiado por Bolsonaro [155].

A polarização: um fenômeno determinante no território eleitoral

A polarização tem marcado cada vez mais os rumos eleitorais no Brasil. No Rio de Janeiro, nossa hipótese é que a disputa será protagonizada pelos candidatos Marcelo Freixo (PSB), pelo campo progressista e lulista, e Cláudio Castro pelo lado bolsonarista. As questões que se apresentam então, diante dessa hipótese, são as seguintes: o apoio do PT e de Lula levarão Freixo a vencer as eleições? Será que o antipetismo perdeu força no Rio de Janeiro? O bolsonarismo, que tem no Rio de Janeiro o seu berço e local de maior enraizamento, conseguirá manter uma força nesse estado que não vem apresentando nacionalmente? Castro será mesmo um candidato bolsonarista ou conseguirá se desvencilhar do atual presidente, cuja rejeição é muito maior do que a apresentada pelo governador? Enfim, não será uma tarefa fácil reverter o espectro político do Rio de Janeiro, um esforço duplamente desafiador para Marcelo Freixo que representará a aliança da esquerda para tentar conter a onda bolsonarista.

Outro elemento que pode ser definidor do pleito é o voto religioso. Por um lado, Castro, é declaradamente católico e reforça em sua biografia o pertencimento à Igreja, destacando que chegou a concorrer ao prêmio de melhor cantor católico do Brasil nos anos de 2012 e 2016, sendo considerado um dos cinco primeiros do Brasil, e também, foi coordenador arquidiocesano do Ministério de Fé e Política da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Considerações finais

Em conclusão, o trabalho de Monitoramento Eleitoral no mês de junho consistirá em fazer uma análise comportamental (antes e depois) da mudança de partido de Marcelo Freixo e Cláudio Castro segundo seus posts nas redes sociais. O objetivo será buscar se houve alguma mudança em seus posicionamentos ou se permanecem os mesmos, embora em outro partido. E por fim, traçar contraposições de campanha e ideais fundamentais na trajetória política de cada um.


[149] Formanda em Ciências Sociais pela UFRJ, pesquisa no NUDEB e é Assistente de Pesquisa do DOXA no IESP-UERJ.

[150]  G1. Datafolha governador – Rio de Janeiro, votos válidos: Paes, 27%; Romário e Witzel, 17%; Índio, 13%. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/eleicoes/2018/noticia/2018/10/06/datafolha-governador-rio-de-janeiro-votos-validos-paes-27-romario-e-witzel-17-indio-13.ghtml

[151] https://placar.eleicoes.uol.com.br/2018/1turno/rj/

[152] Gazeta do povo. Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM) disputam o 2º turno no Rio de Janeiro. Acesso em: 13 de mai. de 2022.

[153]  G1. Deputados federais eleitos no RJ; veja lista. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/eleicoes/2018/noticia/2018/10/07/veja-quais-foram-os-deputados-federais-eleitos-no-rj.ghtml. Acesso em: 23 de mai. de 2022.

[154] https://www.cnnbrasil.com.br/politica/pesquisa-ipec-para-governo-de-rj-castro-e-crivella-tem-16-freixo-15/

[155] O Globo. Datafolha: Castro tem 18% de aprovação e 25% de reprovação no governo do Rio. Disponível em: https://oglobo.globo.com/politica/datafolha-castro-tem-18-de-aprovacao-25-de-reprovacao-no-governo-do-rio-25466153. Acesso em: 16 de mai. de 2022.

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