O Boletim #1 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No terceiro texto “Lula x Bolsonaro: alguns antecedentes” (p. 16-19), a graduanda em História Isabelle Braga analisa a polarização entre Lula e Bolsonaro e seu impacto na construção do cenário político contemporâneo. O intuito é mapear a movimentação dos partidos políticos ao longo dos últimos 8 anos para compreender como chegamos no contexto atual.

Confira o texto abaixo!

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Lula X Bolsonaro: alguns antecedentes
Isabelle Braga [9]

Resumo O presente texto tem por objetivo analisar a construção da polarização entre Lula e Bolsonaro e seu impacto na construção do cenário político contemporâneo. Para isto, neste primeiro boletim, retomamos alguns elementos da conjuntura entre 2014 a 2022, com o intuito de mapear, de forma inicial, como os partidos políticos se movimentaram ao longo dos últimos anos. Retomar a construção deste campo, dando um passo atrás, é essencial para compreender as correlações de forças contemporâneas entre os campos da esquerda, centro e direita. Como estratégia de análise do período, o artigo analisará as consequências dos desdobramentos da eleição de 2014 para 2022. Nossa hipótese é que essa eleição é primordial para a continuidade de elementos centrais da ordem política da República de 1988, sobretudo da sua dimensão democrática. Para o presente texto, foram analisadas matérias publicadas em sites jornalísticos como Grupo Globo, Gazeta do Povo, Brasil de Fato, Carta Campinas e Jornalistas Livres, assim como os sites do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal Regional Eleitoral – Rio de Janeiro e a conta do Planalto no Youtube.

Como chegamos até aqui: de 2014 a 2022

“Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro” (Heródoto)

A recomendação do grego Heródoto, considerado pai da história que viveu no século V antes de Cristo, nos parece necessária para entender o contexto histórico e político que o Brasil se encontra hoje. Em um momento que nos aproximamos da decisão de quem irá ocupar a cadeira do Palácio do Planalto, é essencial que façamos um recuo na linha do tempo para entender como se configurou o quadro político contemporâneo, organizado em torna das figuras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do atual presidente do Brasil Jair Messias Bolsonaro (PL).

Para analisar o cenário atual é importante retornarmos rapidamente às eleições de 2014 e suas repercussões. Nela, os agentes que são objeto de estudo não tiveram um embate direto, isso porque Lula apoiava a reeleição da primeira presidenta do país, Dilma Rousseff, e Bolsonaro percorria o trajeto de se reeleger Deputado Federal pela 7° vez consecutiva. As eleições presidenciais foram marcadas por uma acirrada disputa, na qual apenas pouco mais de 3% do total de votos válidos (Tribunal Superior Eleitoral, 2014) [10] separaram a chapa vitoriosa de Dilma contra a de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. Por outro lado, Bolsonaro não teve problemas em se eleger o deputado mais votado do Rio de Janeiro com 464.572 dos votos (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, 2014) [11]. Esses resultados evidenciam o crescimento de atores de extrema-direita, movimentado, dentre outros elementos, por uma retórica antipetista e pelo exacerbamento de discursos que pregam a moralidade, os valores cristãos e a valorização da família tradicional brasileira. Esses fatores, “com o Supremo e tudo”, os desgastes da Operação Lava Jato e o show midiático em cima das acusações de pedaladas fiscais culminaram no golpe que afastou a primeira presidenta mulher do Brasil do poder em agosto de 2016 e deu lugar a seu vice, Michel Temer (PMDB) – cuja gestão esteve marcada por uma agenda neoliberal com reformas trabalhistas e a implantação do teto de gastos.

As eleições de 2018, por sua vez, foram cruciais para a história do Brasil e mesmo 4 anos depois ainda é difícil analisar o processo em toda a sua complexidade. Naquele ano, o PT idealizava retornar ao poder, indicando Lula como pré-candidato. Entretanto, a prisão do quadro histórico do Partido dos Trabalhadores em abril de 2018, por Sérgio Moro, forçou o partido a pensar em novas estratégias, lançando Fernando Haddad como contraponto a Bolsonaro. Marcada por fake news e por uma agressiva campanha de ataques públicos à esquerda, a consulta popular deu vitória a Jair Bolsonaro com 55,13% [12], representando um momento central na ascensão da extrema direita ao comando do país. Hoje, próximo de mais um processo eleitoral, o legado da gestão de Bolsonaro é sublinhada por ataques às universidades e ao serviço público, pela crise econômica, pelo encarecimento dos alimentos e do custo de vida e, principalmente, pelo negacionismo, o qual é responsável pela morte de mais de 650 mil brasileiros pela pandemia da COVID-19 ao afirmar que a mesma não passava de uma “gripezinha”. [13]

O jogo político e suas configurações

Em 7 de maio o Partido dos Trabalhadores oficializa a candidatura de Lula à Presidência, com Geraldo Alckmin (PSB) de vice14. Esse último, governador de São Paulo durante 4 mandatos, encontrou alguma resistência no campo progressista, visto o histórico do ex-tucano caracterizado por sua política de segurança pública15 e sua repressão contra professores16. Com o apoio de mais 5 partidos (PCdoB, PSOL, Rede, Solidariedade e PV), Lula defendeu um discurso de unidade, reforçou a importância de derrotar Bolsonaro para retomar a esperança ao país e relembrou os feitos de seu governo.

Do outro lado, ainda temos elementos não definidos sobre a candidatura de Bolsonaro, como o nome do seu vice. Ele se desfiliou do PSL em 2019, legenda que usou nas eleições de 2018, passou dois anos sem partido, tentando emplacar o fracassado “Aliança pelo Brasil”, e, em novembro de 2021, anunciou filiação ao Partido Liberal (PL)17 sob essa sigla o número agora é o 22. Bolsonaro possui apoio do Partido Progressista e do Republicanos e tenta apoio da União Brasil, PSD e MDB para se consagrar o candidato do centrão.

Bolsonaro já sinalizou que pretende repetir a mesma configuração de 2018 e colocar um militar como vice18, o mais cotado sendo Walter Braga Netto, que antes de assumir a pasta da Defesa, seu atual cargo, esteve à frente da Casa Civil em 2020 e também foi interventor de Segurança Pública no Rio de Janeiro em 2018, durante o governo de Michel Temer. Reafirmando assim, seu projeto de país enfatizado na referência das forças armadas e no militarismo.

Conclusão

A eleição de 2022 não se restringe ao confronto entre candidaturas de perfil ideológico diverso, mas assume um caráter quase plebiscitário, no qual a população brasileira decidirá sobre os caminhos da democracia no Brasil. Nos próximos boletins, analisaremos as dinâmicas que a conjuntura irá nos apresentar à luz dos principais candidatos do jogo político.


[9] Graduanda em História na UFF e pesquisadora no NUDEB/UFRJ.

[10] https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2014/Dezembro/plenario-do-tse-proclama-resultado-definitivo-do-segundo-turno-da-eleicao-presidencial

[11] https://www.tre-rj.jus.br/eleicoes/eleicoes-plebiscitos-e-referendos/eleicoes-anteriores-2008-2018/2014/resultados-da-eleicao/arquivos-resultados-da-eleicao/resultado-de-votacao-eleitos-1o-turno/rybena_pdf?file=https://www.tre-rj.jus.br/eleicoes/eleicoes-plebiscitos-e-referendos/eleicoes-anteriores-2008-2018/2014/resultados-da-eleicao/arquivos-resultados-da-eleicao/resultado-de-votacao-eleitos-1o-turno/at_download/file

[12] https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/eleicoes-2018-justica-eleitoral-conclui-totalizacao-dos-votos-do-segundo-turno

[13] https://youtu.be/Vl_DYb-XaAE

[14] https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/05/07/pt-oficializa-pre-candidatura-de-lula-a-presidencia-e-lanca-geraldo-alckmin-psb-como-candidato-a-vice.ghtml

[15] https://cartacampinas.com.br/2017/07/matar-pessoas-e-a-politica-de-seguranca-publica-do-governo-alckmin-dizem-especialistas/

[16] https://jornalistaslivres.org/pm-prende-quatro-em-protesto-contra-reorganizacao-escolar-de-alckmin/

[17] https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/11/30/apos-dois-anos-sem-partido-bolsonaro-se-filia-ao-pl-nona-legenda-da-carreira-politica.ghtml

[18] https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/braga-netto-quem-e-o-general-que-pode-ser-vice-de-bolsonaro/

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