Editorial O GLOBO e suas análises acerca Lula e Bolsonaro, por Isabelle Braga

O Boletim #2 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No quarto texto “Editorial O GLOBO e suas análises acerca Lula e Bolsonaro” (p. 22-31), a graduanda em História Isabelle Braga analisa como a mídia brasileira constrói o imaginário popular dos dois pré-candidatos que lideram as pesquisas para Presidente da República, Lula e Bolsonaro.

Confira o texto abaixo!

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Editorial O GLOBO e suas análises acerca Lula e Bolsonaro
Isabelle Braga ^[20]

Resumo O presente texto tem por objetivo analisar como a mídia brasileira constrói o imaginário popular dos dois pré-candidatos que lideram as pesquisas para Presidente da República, Lula e Bolsonaro. Para isto, neste segundo boletim, analisamos durante o período de um mês (15 de maio de 2022 a 15 de junho de 2022) todos os editoriais publicados pelo Jornal O Globo, mais influente mídia impressa do Estado do Rio de Janeiro, detalhando seus assuntos principais, quais os termos mais utilizados para se referirem aos candidatos de maior destaque nas pesquisas e a quantidade de publicações nas quais aparecem como protagonistas as figuras de Lula e Bolsonaro.

O que dizem os editoriais

Editorial é um artigo de opinião que representa o ponto de vista do jornal, da empresa jornalística ou do redator-chefe. Nos editoriais do O GLOBO o caráter neoliberal é evidente. Artigos de opiniões favoráveis à privatização, cobrança de mensalidade nas universidades públicas, manutenção das reformas trabalhistas e defesa do teto de gastos confirmam essa tendência.

No período analisado foram diversos os temas que tiveram destaque no editorial do jornal, sendo os principais: o garimpo ilegal e o desmatamento da Amazônia, o negacionismo perante a vacinação e seus baixos indices principalmente nas crianças, a alta do preço dos combustíveis e o debate sobre privatização da Petrobras, o cortes de verbas em areas vitais como saúde e educação e a linha da política externa brasileira.

Dos 62 (sessenta e dois) artigos publicados, 44 (quarenta e quatro) citam nominalmente Bolsonaro, 7 (sete) não citam Bolsonaro, mas seus ministérios ou agentes ligados ao governo, e 6 (seis) citam nominalmente Lula.

Os editoriais que não citam nenhum dos pré candidatos à Presidência da República são poucos. Merecem destaque os que tratam da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que institui mensalidades nas universidades públicas, apresentada pelo General Peternelli e relatada por Kim Kataguiri, ambos do União – SP^[21]; a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) da não obrigação dos planos de saúde de cobrir exames e procedimentos não previstos no rol da Agência; e a possibilidade de mais um adiamento do Censo 2022 por conta da determinação da Justiça Federal do Acre de inclusão das perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero, no qual o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) prometeu recorrer^[22].Por fim, outro artigo que vale ser comentado trata da urgência de se investigar os altos cachês pagos a artistas por prefeituras com dinheiro público, levantando o debate sobre prioridade do orçamento e a falta de transparência nas despesas com cultura e entretenimento^[23].

O que dizem os editoriais sobre Bolsonaro

Como apresentado anteriormente, a maioria dos editoriais cita nominalmente o atual Presidente da República, dado o fato de que a gestão de Bolsonaro é a situação. Os artigos opinam sobre os mais diversos temas e todos eles sensíveis ao atual governo. Falta de investimento, garimpo ilegal, desmatamento da Amazônia, corte de verbas na saúde e educação, desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips, fome, alta do preço dos combustíveis, todos esses assuntos foram foco dos editoriais do período analisado.

Sobre o avanço do garimpo ilegal e a preservação das florestas e do meio ambiente, a opinião do jornal é de que Bolsonaro possui uma “desastrosa política ambiental”^[24] e “A leniência com que o governo trata madeireiros, grileiros e garimpeiros ilegais é um incentivo à proliferação de atividades clandestinas que degradam a floresta e expõem os povos indígenas a doenças.”^[25] Esse descaso com a natureza e com a vida dos povos originários culminou no assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Bruno, que foi exonerado de seu cargo na Funai, sofria diversas ameaças em função do seu trabalho, o de combate e denúncia dos pescadores, madeireiros e garimpeiros que realizavam práticas ilegais, principalmente em lugares de reservas e em territórios indígenas^[26].

Acerca da Educação, a urgência para aprovação do ensino doméstico na Câmara demonstra o projeto bolsonarista de afastar as crianças da sala de aula motivado pela ideologia de acreditar que as escolas são um espaço de doutrinação política e reduto da esquerda^[27] . Enquanto o Ministério da Educação, até a data da publicação do editorial do dia 22 de maio de 2022^[28], não tinha um programa nacional para combater a defasagem e evasão escolar promovidas pela pandemia, pauta que deveria ser prioridade para qualquer governo preocupado em barrar o aprofundamento das desigualdades sociais. Outro golpe na pasta foram os cortes orçamentários que afetaram para além da Educação, a Saúde e a Ciência e Tecnologia. O GLOBO classifica essa ação como “descaso com as necessidades reais do país, oportunismo eleitoreiro e obsessões ideológicas”^[29], uma vez que essas áreas se encontram em segundo plano em relação ao público que em tese votaria em Bolsonaro.

Um assunto que tem sido pedra no sapato do presidente é o preço da gasolina e do diesel, com sucessivas trocas na presidência da Petrobras para tentar amenizar a situação pensando nas eleições que estão por vir, Bolsonaro constantemente fala sobre privatizar a estatal. Uma de suas tentativas foi a aprovação da redução do ICMS no Congresso. O último editorial do período analisado que trata sobre o assunto pontua que “Desespero é a palavra que define o último esforço do governo para conter a alta dos combustíveis” ^[30], a ideia é renunciar os impostos federais sobre os combustíveis e destinar até R$ 50 bilhões, vindo da venda de ações da Eletrobras, para financiar um subsídio temporário ao diesel e ao gás de cozinha. O dinheiro seria transferido aos estados para compensar as perdas que teriam zerando o ICMS sobre esses dois produtos até o final do ano. Tudo isso seria realizado via PEC, para driblar o teto de gastos.

Um dos fatos mais marcantes da gestão do governo Bolsonaro é a fome, sendo classificada como “uma das heranças mais nefastas”31. A fome atinge mais de 30 milhões de brasileiros, segundo o último levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), 59 milhões não sabem se terão dinheiro para comprar comida no futuro^[32] . Voltamos ao triste Mapa da Fome, realizado pelas Nações Unidas, de onde tínhamos saído em 2013.

O que dizem os editoriais sobre Lula

Sobre o pré-candidato petista, os editoriais são numericamente mais modestos, apenas 6 (seis) o citam nominalmente. O de maior relevância é o que fala sobre o seu plano econômico. Reafirmando sua agenda neoliberal, o editorial faz críticas às propostas de revogar o teto de gastos e a posição contrária às privatizações – principalmente da Petrobras, Eletrobras e dos Correios – presente no programa, tudo isto no editorial do dia 20 de maio33. Sobre o indicativo de fortalecimento dos bancos públicos, o artigo é ainda mais incisivo na posição adversa. Acerca do aceno de abolir a reforma trabalhista de Michel Temer, mais críticas. O editorial é finalizado com duras previsões sobre uma possível vitória da chapa Lula-Alckimin, “Se o documento virar mesmo programa oficial e a chapa for vitoriosa, a realidade que se imporá aos novos governantes na certa obrigará o PT a cometer mais um estelionato eleitoral”^[34].

Alguns artigos discorrem sobre os feitos de Lula em seus governos e um deles afirma que o Bolsa Família sofreu retrocesso ao se tornar Auxílio Brasil^[35]. O Bolsa Família é representado como uma das marcas de assistência social que evoluiu na gestão do petista. Outro aponta como a Medida Provisória que renegocia as dívidas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa ampliado na gerência dos governos Lula, deseduca ao incentivar o calote^[36] . Pontua que uma das propostas defendida pelo pré-candidato é a renegociação das dívidas, assim como a anistia dos débitos.

Dois editoriais que dialogam bastante são os que falam sobre como é precipitado dizer que não haverá segundo turno^[37] e o que trata da necessidade de Biden fazer pressão sobre Bolsonaro no tocante às eleições^[38]. Apesar do Datafolha de maio confirmar a liderança de Lula à Presidência, com 48% das intenções de votos, seguido pelo Presidente Jair Bolsonaro, do PL, com 27%, ainda é cedo colocar que o cenário já está definido, visto que é duvidoso fazer qualquer aposta com base em pesquisas de intenção de voto, especialmente antes do início oficial da campanha. Entretanto, essas pesquisas servem para preparar o terreno perante uma possível derrota de Bolsonaro nas urnas. O atual governante frequentemente difere ataques mentirosos ao sistema eleitoral brasileiro e a possibilidade de golpe, caso os resultados não comunguem vitória a ele. Dessa forma, Biden deve pressionar Bolsonaro, conhecido como “Trump brasileiro”, ao reafirmar que não tolerará nenhuma tentativa de golpe ao estilo “Capitólio em 6 de janeiro”, uma vez que o Presidente estadunidense “já afirmou que os tempos atuais são definidos pelo embate entre democracias e ditaduras”^[39].

Esse diagnóstico reafirma que a eleição deste ano é uma das mais importantes da história do país desde o seu processo de redemocratização, por consequência, é urgente e mais do que nunca, necessário defender a democracia e seus princípios.