19% dos formandos em licenciaturas não querem trabalhar como professores

De acordo com os dados do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) de 2021, cerca de 19% dos estudantes de licenciatura no Brasil não têm interesse em trabalhar como professores. Especialistas em educação atribuem essa falta de interesse à baixa remuneração e às más condições de trabalho enfrentadas pelos professores. A formação inicial de professores foi identificada como um dos principais desafios da educação brasileira, levando o ministro Camilo Santana a criar um grupo de trabalho para propor mudanças curriculares nas licenciaturas e incentivar os jovens a seguir nessa carreira.

Os dados do Enade revelam que, dos 305.215 concluintes de licenciatura que responderam ao questionário, 14% afirmam não querer a docência como sua principal função, enquanto 5% descartam completamente a carreira de professor. Estudos anteriores já haviam alertado para o risco de déficit de professores no futuro, prevendo uma falta de 235 mil docentes até 2040, caso o ritmo atual de formação se mantenha.

A pesquisa da OCDE de 2018 já havia apontado o Brasil como o país com o menor percentual de jovens interessados em se tornar professores, com apenas 2,4% dos alunos de 15 anos manifestando esse desejo. Os estudantes de licenciatura apontam a vocação como a principal motivação para a escolha do curso, representando 35% das respostas. No entanto, alguns estudantes mencionam a falta de condições financeiras para fazer outro curso (3%) e a ausência de opções de bacharelado na área (2%) como fatores que influenciaram sua decisão.

Em matéria da Folha, especialistas destacam que as condições precárias da carreira docente levam muitos licenciados a buscar outras opções profissionais. Alunos formados em áreas como química e física, por exemplo, costumam encontrar melhores salários no setor privado do que em sala de aula. Além disso, a falta de atratividade dos currículos das licenciaturas, considerados teóricos demais e desconectados da realidade da sala de aula, também contribui para que muitos estudantes desistam de seguir a carreira de professor.

A pesquisa mostra o agravamento de um cenário que já é bastante preocupante, já que há um déficit de professores da Educação Básica. O relatório sobre o Censo da Educação Superior, publicado pelo Observatório, apresentou a pesquisa realizada por Nani Junilia de Lima entre 2016 e 2019 revela a importância da formação de professores como um exemplo ilustrativo do problema central abordado. A pesquisadora investigou a necessidade de graduados em licenciaturas e pedagogos para o cumprimento de metas relacionadas à Educação Básica. Para alcançar a erradicação do analfabetismo absoluto, a universalização das matrículas e a oferta de educação em tempo integral para 50% das crianças brasileiras, há um déficit de 1.216.294 pedagogos, por exemplo.

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