Representação e papel das mulheres trans na política brasileira, por Camyla Gouvêa
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O Boletim #3 está no mundo!
Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?
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Confira o texto abaixo!
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Representação e papel das mulheres trans na política brasileira
Camyla Gouvêa [29]
Resumo O presente texto é parte da pesquisa do Projeto de Monitoramento Eleitoral tem por objetivo analisar como a população LGBTI+ está inserida nos processos eleitorais e nas Assembleias Legislativas, Câmaras de Deputados e Senado. Para esse estudo foram analisados matérias e editoriais em jornais online como a Folha e o Nexo, além do site da vereadora e candidata Erika Hilton, da qual abordaremos o perfil.
Contextualizando o perfil de quem majoritariamente é eleito no Brasil
O Brasil possui um certo protagonismo histórico quando pensamos nos representantes políticos: o arquétipo constituído pelos homens brancos, de meia idade, que por vezes fazem parte de grupos familiares que se encontram no poder há décadas. Entretanto, pode-se dizer que parte dessa lógica está sendo subvertida no contexto eleitoral atual, já que analisando os últimos pleitos é possível encontrar o crescimento da diversidade entre os candidatos, tanto nos representantes negros e nos LGBTI’s. Esses dados apontam os últimos anos testemunharam mudanças no número de representantes de tais grupos em cargos executivos e legislativos, mas, em contrapartida, quando são analisados quantitativamente, fica claro que ainda existe um longo caminho a ser percorrido para que alcancemos de fato uma pluralidade entre os representantes.
Ao olharmos para nossos legislativos e executivos fica nítida a sub-representação das mulheres nesses espaços, já ao analisarmos a participação das mulheres trans o cenário se torna ainda mais desfavorável já que, além do pleito eleitoral, é necessário que elas enfrentem também a discriminação nos espaços institucionais. As eleições municipais de 2020 podem ser lidas como o início de um movimento de transformação nesse aspecto, tendo em vista que quase trinta pessoas transexuais foram eleitas[30] e que ao longo desses dois anos diversos grupos estão articulando a formação de uma bancada trans na Câmara dos Deputados[31].
A partir dessas mobilizações, essa parte específica da comunidade LGBTI+ busca atender a demandas que são sufocadas tanto pelo próprio coletivo organizado como por toda a sociedade, já que o congresso atualmente é composto também por fortes grupos conservadores, como no caso de parte significativa da bancada evangélica. Com base em um levantamento feito pela Folha de São Paulo[32], pelo menos 6 das 27 parlamentares trans já divulgaram sua pré-candidatura para uma vaga em Assembleias Legislativas, Câmara dos Deputados ou no Senado – nessas duas últimas casas nunca houve uma mulher trans eleita –, ainda que esse seja um momento de lançamento de campanha os partidos já estão divulgando algumas candidatas e é possível constatar que, até o momento, a maioria das candidaturas desse grupo está localizada em partidos de esquerda e centro-esquerda. Ainda que muitos partidos de direita e centro-direita não estejam afinados aos mesmos objetivos das pautas abordadas por essa população, é possível encontrar diversas candidaturas fragmentadas por esses partidos, principalmente em cidades do anterior.
Como exemplo de mulheres trans eleitas, podemos citar a vereadora Duda Salabert (PDT), de Belo Horizonte (MG), a vereadora Benny Briolly (PSOL), de Niterói (RJ), e a vereadora Lins Roballo (PT), de São Borja (RS). A seguir traçaremos uma breve descrição da vereadora Erika Hilton (PSOL), de São Paulo (SP). A vereadora mais votada do Brasil em 2020 – com mais de 50 mil votos – é a primeira travesti a ocupar um cargo de liderança em uma bancada de parlamentares no Brasil.
Perfil de atuação da vereadora Erika Hilton
Um exemplo de atuação de mulheres trans na política é a vereadora Erika Hilton, que nesse ano assumiu a liderança da bancada do PSOL na camarada de vereadores da cidade de São Paulo[33]. Erika Hilton está em seu primeiro mandato, preside a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal e tem como bagagem uma trajetória como ativista em Direitos Humanos, no combate à discriminação contra a comunidade LGBTI+, na defesa da equidade para a população negra, além do apoio a iniciativas culturais para jovens e pessoas periféricas[34].
Hilton aponta que atua e quer se aprofundar em temas como orçamento, cultura, emprego e renda, educação, meio ambiente, saúde, transporte e acessibilidade[35]. Ela, que também irá disputar à uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições deste ano, pode ser a primeira mulher trans eleita como deputada federal e diz que, além de continuar um trabalho já iniciado em São Paulo, tem como um dos motivos para essa tomada de decisão a necessidade de reconstrução do país, já que segundo ela, no governo de Jair Bolsonaro o Brasil foi alvo de uma destruição sem precedentes[36]. Em relação às demandas da comunidade LGBTI+, Erica pretende federalizar o debate sobre a inclusão de pessoas trans e travestis, o programa Transcidadania, por ser um projeto que já lidera na câmara municipal.
A vereadora é frequentemente vítima de ataques repletos de discursos de ódio, mas declara que transforma as situações em combustível para promover mudanças sociais e que apesar de esperar que as eleições de 2022 sejam violentas, os embates se tornam prova de como sua participação como figura política tem sido relevante e produtiva. No processo de lançamento de sua candidatura, Erika também pretende se dedicar a reuniões com lideranças do movimento LGBTI+, com o propósito de debater pontos prioritários para a comunidade e traçar estratégias para o desenvolvimento de políticas públicas para o segmento que, de acordo com ela, tem sido uma agenda posta em segundo plano nos últimos anos pelo governo federal.
Conclusão
O que podemos apreender da discussão é que mesmo que as últimas eleições tenham sido favoráveis e que um crescimento de representantes LGBTI+, e mais especificamente, de mulheres trans, tenha ocorrido, a equidade ainda está muito distante e essa população continua politicamente marginalizada e esquecida. Felizmente, é possível notar que nas pré-candidaturas, apresentadas até agora, as mulheres trans são as que apresentam maior percentual entre os outros grupos do movimento LGBTI+, de acordo com o mapeamento de pré-candidaturas realizado pelo coletivo #VOTELGBT[37].
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[29] Graduanda em Ciências Sociais pela UERJ.
[35] https://www.erikahilton.com.br/
[37] https://www.generonumero.media/pre-candidaturas-lgbt-2022/