O Boletim #1 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No quinto texto “Os movimentos sociais e seus posicionamentos nas eleições presidenciais de 2018 e 2022” (p. 25-29), a bolsista Camyla Gouvêa analisa os discursos dos representantes dos movimentos sociais brasileiro para entender como esses grupos estavam se posicionamentos no pleito de 2018 e como estão se apresentando no contexto atual.

Confira o texto abaixo!

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Os movimentos sociais e seus posicionamentos nas eleições presidenciais de 2018 a 2022
Camyla Gouvêa

Resumo O presente texto é parte da pesquisa do Projeto de Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo estabelecer um comparativo entre as eleições de 2018 e as eleições de 2022, em relação aos posicionamentos políticos dos movimentos sociais. Para isso, nesse primeiro número, foi feito um mapeamento dos discursos dos principais representantes dos movimentos sociais brasileiros e seu posicionamento em relação as eleições presidenciais. Este artigo analisará como alguns movimentos selecionados se localizaram nesta disputa, quais pautas costumam ser reivindicadas e se seu posicionamento, no que se refere às alianças e aos discursos, se repetirá nas eleições desse ano. Nossa hipótese é que em relação ao espectro político não haverá mudança, mas sim um deslocamento das figuras dos representantes. Para esse estudo, foram analisados matérias e editoriais em jornais online como Nexo, El País, Folha de São Paulo, Uol e Revista Fórum.

Um panorama das eleições de 2018

A eleição presidencial de 2018 se apresenta como um desdobramento de episódios que ocorreram nos anos anteriores, como a Operação Lava Jato, o golpe sofrido por Dilma Rousseff e o governo de Michel Temer. Diante desse cenário de crise institucional e econômica, o pleito eleitoral foi marcado pela acentuação do antipetismo e da polarização, gerando uma quebra na lógica de disputa tradicional entre PT e PSDB, que perdeu seu espaço para o discurso de extrema-direita de Jair Bolsonaro, na época filiado ao PSL.

Outros acontecimentos como a prisão do Lula pela acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em abril de 2018, quando ele liderava as pesquisas de intenção de votos e o atentado sofrido pelo principal adversário da chapa do Partido dos Trabalhadores, Jair Bolsonaro, em um ato público em setembro de 2018, também influenciaram os rumos da eleição.

Além disso, outro fator relevante na corrida presidencial foi o papel desempenhado pelas redes sociais, especialmente a propagação de notícias falsas através do WhatsApp. Mesmo com a promessa de atuação do Tribunal Superior Eleitoral contra as fake news, Fernando Haddad – candidato que assumiu o posto de presidenciável após a prisão de Lula – fez acusações diretas à Bolsonaro por disseminar informações falsas relacionadas ao seu programa de governo e toda sua campanha, entretanto não foram impostas sanções significativas contra o candidato do PSL, na época. Essa eleição foi responsável por marcar o poder da internet frente às mídias tradicionais como a TV e o rádio [29].

Toda essa contextualização se faz necessária para compreender como os movimentos sociais estavam situados. Enquanto a candidatura do PT se alinhava com os discursos e práticas de movimentos sociais orientados à esquerda, como o movimento negro, o LGBTQI+, o indígena, o MST [30] , o feminista e o estudantil [31] , a candidatura do PSL se vinculava a movimentos sociais localizados à direita e frequentemente autointitulados suprapartidários, como o MBL [32] , o Renova BR e o Acredito.

É válido ressaltar que a postura de Bolsonaro – desde sua candidatura até os dias atuais – sempre foi taxativa e agressiva em relação a grupos minoritários. Em oposição a isso, algumas mobilizações ganharam destaque, um exemplo foi o #EleNão, ação que teve o protagonismo do movimento feminista, coordenada a partir das redes sociais para ocorrer no fim de semana anterior ao primeiro turno em inúmeras cidades do país. Outro caso foi o Vira Voto, que ocorreu no segundo turno e pretendia estabelecer um diálogo com eleitores indecisos. Dessa forma, esse texto busca analisar quais os posicionamentos dessas organizações nas eleições de 2022, com o intuito de investigar se os cenários se mantiveram ou se alteraram.

Apresentação da conjuntura para 2022

O cenário da corrida eleitoral em 2022 possui um pano de fundo muito distinto da última ocasião. O país passa por um momento caótico de recuperação dos impactos gerados pela pandemia de Covid-19 e uma conjuntura econômica totalmente desfavorável, com taxas de inflação e desemprego que batem recordes [33] a cada mensuração. De acordo com o Datafolha, o governo tem uma taxa de reprovação de 48% e o presidente tem 54% rejeição, se consolidando como candidato a reeleição com maior rejeição da história [34] . Além disso, Bolsonaro promove ataques sequenciados ao Supremo Tribunal Federal e o sistema eleitoral, vez ou outra expressando nas entrelinhas que um resultado negativo nas urnas não será aceito.

No momento em que esse boletim foi escrito, existiam dois concorrentes em destaque: Lula e Bolsonaro. Os outros candidatos sequer atingiram dois dígitos nas pesquisas e o caminho de despolarização, frequentemente pautado pelos veículos tradicionais de comunicação através da ideia da terceira via, até o momento não conseguiu se estabelecer como opção viável, já que Sérgio Moro e João Dória não são mais candidatos e Ciro Gomes parece não conseguir absorver e se tornar competitivo.

Acerca dos movimentos sociais, até o momento foi possível identificar que como nas eleições de 2018, os coletivos ligados a pautas progressistas permanecem relacionados a candidatura do PT. No dia 27 de abril, Lula recebeu um documento assinado por mais de 60 organizações – como por exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST, a União de Negros pela Igualdade – UNEGRO e a Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB – , que apresentaram uma série de propostas que visam a derrota ao Bolsonarismo e a reconstrução do país [35] . As reivindicações incluem desde medidas econômicas como a retomada da valorização do salário-mínimo, até medidas de garantia dos serviços públicos como a ampliação do financiamento do Sistema Único de Saúde revertendo a instauração de um modelo que pretende privatizar o SUS.

Quanto a demandas de movimentos sociais, foram pautadas pelas organizações a defesa dos direitos políticos e sociais da população LGBTI, negros, mulheres, quilombolas, indígenas e pessoas com deficiência, a proteção dos territórios indígenas e das comunidades tradicionais, a retomada da reforma agrária e a democratização do acesso à terra.

As organizações sociais que apoiaram o Bolsonaro em 2018 parecem ter se dissolvido e no momento não declaram mais apoio ao presidente. Um exemplo é o MBL, que optou por apoiar a candidatura de Sérgio Moro já que parte dos seus integrantes migraram para o partido do ex-juiz, o Podemos [36]. Entretanto, a candidatura não se concretizou e o alguns integrantes do movimento foram alvo de polêmicas recentes envolvendo a guerra da Ucrânia e tiveram seus mandatos cassados. As outras organizações, já citadas anteriormente no texto, até o momento não se manifestaram oficialmente sobre qual candidato será apoiado.

Conclusão

De acordo com o que foi apresentado no texto, é possível dizer que, com os dados mapeados até o momento, o posicionamento dos movimentos sociais se manteve e se dissipou. O discurso e o apoio se mantêm nas organizações ligadas a políticas progressistas, já que nas duas eleições o apoio a candidatura do PT e a derrota ao Bolsonarismo aparecem como escopos centrais das mobilizações. Já as organizações que se aliaram ao Bolsonaro em 2018, surfando na onda de um forte antipetismo e de uma ascensão das agendas anticorrupção e de segurança pública, não perduraram até o fim do mandato e acabaram se pulverizando em outros partidos e figuras.

Por um lado, é possível argumentar que onde o apoio à candidatura se manteve nas duas eleições foi na população mais afetada pelo governo atual. Para além de todas as intercorrências enfrentadas pelo governo como a pandemia de Covid-19, houve um crescimento no discurso de ódio a determinados indivíduos, a volta do país ao mapa da fome, invasões a territórios indígenas e um desmonte da máquina pública que atingiu diretamente essa população. Os movimentos que inicialmente eram ligados ao governo foram se desmantelando seja por divergências de interesses, por inúmeros escândalos de corrupção ou por conflitos de representatividade. Até o presente momento o presidente não possui nenhuma aliança significativa com nenhum movimento social.


[29] https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2018/2018-uma-elei%C3%A7%C3%A3o-marcada-pelas-redes-e-disputas-de-rejei%C3%A7%C3%B5es

[30]  https://mst.org.br/2018/10/03/este-e-o-momento-de-tomar-partido/

[31]  https://www.une.org.br/noticias/estudantes-se-organizam-contra-bolsonaro-em-diversas-universidades-do-pais/

[32] https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/03/politica/1543850784_783436.html

[33] https://www.nexojornal.com.br/grafico/2022/05/16/Infla%C3%A7%C3%A3o-e-desemprego-batem-recorde-e-passam-de-10-no-Brasil

[34] https://www.uol.com.br/eleicoes/2022/05/27/bolsonaro-tem-maior-rejeicao-entre-presidentes-que-ja-tentaram-reeleicao.html

[35] https://revistaforum.com.br/politica/2022/5/27/propostas-dos-movimentos-sociais-lula-conhea-documento-aqui-117969.html

[36] https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,eleicoes-2022-sergio-moro-mbl-podemos-arthur-val-kim-kataguiri,70003954049





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