O que Lula e Bolsonaro abordaram nas propagandas do horário gratuito eleitoral eleitoral do primeiro turno?, por Isabelle Braga
O Boletim #8 está no mundo!
Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?
No terceiro texto “O que Lula e Bolsonaro abordaram nas propagandas do horário gratuito eleitoral do primeiro turno?”, a graduanda em História Isabelle Braga analisa a propaganda gratuita eleitoral dos presidenciáveis de maior destaque, Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores e Jair Messias Bolsonaro do Partido Liberal.
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O que Lula e Bolsonaro abordaram nas propagandas do horário gratuito eleitoral eleitoral do primeiro turno?
Isabelle Braga[21]
Confira o texto abaixo!
Resumo O presente texto tem por objetivo analisar a propaganda gratuita eleitoral dos presidenciáveis de maior destaque, Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores e Jair Messias Bolsonaro do Partido Liberal observando seus discursos, temas que abordam e a estética que se utilizam para evidenciar seus programas de governo no primeiro turno. Para isto, usamos como referência as propagandas eleitorais do dia 1 de setembro ao dia 16 de setembro que foram televisionadas no horário noturno.
Lula na propaganda do horário gratuito eleitoral
Na propaganda eleitoral de primeiro de setembro[22], a campanha de Lula é iniciada com os dizeres “Agora é amor, agora é Lula”[23], ao rememorar como o Brasil avançou nos seus anos de governo, dando destaque para as áreas da saúde, da educação e da geração de empregos, o presidenciável pontuou que o amor é a principal característica de um bom governante. Sinalizou que em seus anos de governo o Brasil foi destaque internacional, relembrando a boa relação que o país possuía com as mais diversas lideranças das potências mundiais. O vídeo é finalizado trazendo contrapontos, sem citar o nome, apenas fazendo o gesto de uma arma, característico de Bolsonaro e seus apoiadores, entre a situação de vida da população no atual governo e das propostas de Lula sobre as circunstâncias.
No programa seguinte[24] Lula fala para as mulheres. Um aceno importante visto que o eleitorado é majoritariamente feminino e portanto decisivo para o resultado dessas eleições. É nesse momento que Rosângela Silva, mais conhecida como “Janja”, aparece pela primeira vez em uma propaganda eleitoral televisionada. Janja, que além de socióloga é também esposa do Lula, toca especialmente em um assunto que fazem parte do cotidiano de milhares de mulheres brasileiras: a fome. Elenca que mudar essa dura realidade é uma tarefa de todas nós e com Lula isso será possível.
Com narração de Marieta Severo, o programa eleitoral que precedeu os atos do dia 7 de setembro[25], que no ano de 2022 completou 200 anos de independência, Lula disputa a identidade nacional simbolizada na bandeira do Brasil, cooptada nos últimos anos pelos movimentos de extrema direita. O candidato expõe que a bandeira é do povo brasileiro e sem citar nominalmente Bolsonaro apenas o “atual governo” diz “Eles usam a nossa bandeira para mentir, pregar o ódio e incentivar a venda de armas”[26]. Alckmin, vice candidato a presidência na chapa do petista também discursa, clamando para que o próximo 7 de setembro seja em “um Brasil de esperança”[27], fazendo referência ao nome da coligação dos mais diversos partidos em torno da chapa Lula-Alckmin.
O quarto programa aborda um tema sensível para a gestão do governo Bolsonaro, a pandemia da COVID-19. Enquanto vemos a imagem de um respirador utilizado em pacientes mais graves em decorrência do vírus, foram colocadas algumas das diversas declarações polêmicas do atual presidente acerca da pandemia, entre elas, uma das que obteve maior destaque, onde Bolsonaro classificou a COVID-19 como “uma gripezinha ou um resfriadinho”[28]. O relato de uma eleitora mineira acerca desse assunto tornou a propaganda ainda mais sensível ao relembrar que as pessoas que perdemos para o vírus não eram somente números mas sujeitos com nome e relações sociais, recordando que se a vacina fosse comprada a tempo, múltiplas vidas teriam sido salvas. Lula pontua que sem o SUS e os profissionais da saúde o impacto da pandemia seria mais trágico, é incisivo ao dizer, sem nominalmente citar Bolsonaro, que o governo do mesmo impediu que milhares de vidas fossem salvas pelo atraso da compra das vacinas. Finaliza manifestando que tempos como estes, vistos nos últimos quatro anos, nunca mais irão se repetir.
O discurso de ódio é o assunto da propaganda do dia 10 de setembro, o petista afirma que no Brasil “não existia a cultura da pregação do ódio”[29]. Declara que não podemos tratar as eleições como uma guerra e pede para que a briga política não seja algo presente nas famílias brasileiras, reafirma que irá governar para todos independente de gostarem dele ou não, pois segundo o mesmo o papel do presidente é “o papel do maestro”[30].
Após traçar um paralelo entre as dificuldades que o presidenciável experimentou enquanto um jovem, pobre e trabalhador e como essa bagagem refletiu em seus feitos durante o tempo que foi presidente, sempre priorizando os mais pobres. A propaganda eleitoral do dia 13 de setembro[31], dentro do recorte realizado, é o primeiro que aborda os casos de corrupção no interior do governo Bolsonaro e de sua família, entre eles, o escândalo do MEC acerca das barras de ouros, os inúmeros documentos com sigilos de cem anos que contêm informações comprometedoras, os casos das rachadinhas envolvendo seus familiares e por fim, o escândalo da compra de mais de 50 imóveis com dinheiro vivo.
No último programa do período analisado[32], Lula conversa com a população brasileira sobre educação. Para isso, são utilizados diversos relatos de pessoas que tiveram suas vidas transformadas pelas políticas públicas dos anos de governo do petista. O presidenciável diz que se emociona toda vez que vai a algum lugar do Brasil e encontra pessoas que declaram que são as primeiras de suas familiares a terem a oportunidade de ter ingressado e se formado em algum curso superior. O ex-ministro da Educação de seu governo e ex-candidato à Presidência da República pelo PT, Fernando Haddad, também aparece na propaganda, relembrando os projetos e avanços educacionais realizados enquanto foi ministro. Lula terminou seu discurso saudando a juventude e destacando que nos quatro anos de governo Bolsonaro o mesmo não aumentou a verba da merenda escolar para as crianças, onde o valor repassado para cada refeição de um estudante do ensino fundamental é de R$0,36 centavos em contrapartida para o orçamento secreto Bolsonaro liberou bilhões de reais.
Bolsonaro na propaganda do horário gratuito eleitoral
A primeira propaganda eleitoral[33] analisada da campanha de Bolsonaro é iniciada com uma metáfora em como em tempos de governo de esquerda se dava o peixe fazendo com que as pessoas dependessem dessa relação e fossem manipuladas pelo mesmo e como isso mudou após a ascensão de um governo de direita, que além de dar o peixe também ensinou a pescar, tornando “homens e mulheres livres”[34].
O programa do dia 3 de setembro[35] é focado em exaltar os feitos do atual presidente e de construir a ideia de que Bolsonaro é um homem simples e do povo, ao relatar que o mesmo gosta de moto, farofa e caldo de cana. São tocados em assuntos que durante os 4 anos de governo foram sensíveis para o presidenciável, como o preço da gasolina, que somente no ano eleitoral houveram tentativas de abaixar o preço cada vez que nos aproximamos do dia do pleito e do combate à fome, personalizado na criação do Auxílio Brasil. Bolsonaro fala para os públicos que sabe que são decisivos para a sua reeleição: os mais pobres e as mulheres. Michele Bolsonaro, esposa do candidato, aparece em teor de brincadeira dizendo que “Dá até um ciuminho”[36] após ser exaltado os feitos do presidente acerca das pautas das mulheres.
O programa eleitoral que precedeu as mobilizações do 7 de setembro onde Bolsonaro convocou seu eleitorado para ensaiar um golpe, o tema foi segurança pública. A partir de uma declaração de Lula sobre não aguentar mais ver jovens de 14 e 15 anos serem assassinados ou violentados pela polícia por roubarem um celular ou por serem inocentes, Bolsonaro se vangloria dos seu trabalho junto com a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal sobre o combate às drogas, seu vice Braga Netto aparece para comparar o número de apreensão das drogas no governo Bolsonaro e nos governos petistas. Fazendo um aceno para o público feminino, uma das propostas do candidato da extrema direita sobre a pauta é a de proteção para vítimas de violência doméstica e apoio social e jurídico.
Sobre geração de empregos, Bolsonaro dedicou uma propaganda inteira para reivindicar suas ações acerca da diminuição de impostos, do desemprego e preço da gasolina e do aumento do PIB (Produto Interno Bruto), das exportações, arrecadação e investimentos. Enquanto proposta de governo, o candidato divulga que caso eleito aumentará em R$200 reais o Auxilio Brasil para aqueles que estiverem empregados, ou seja, o cidadão receberá R$800 reais mais o salário, um incentivo para que as pessoas trabalhem.
No dia 10 de setembro, a propaganda eleitoral relembrou os atos do 7 de setembro e exaltou as posições dos eleitores bolsonaristas e de Bolsonaro contra a ideologia de gênero, a legalização das drogas e do aborto junto com o seu discurso pela valorização da família e de Deus. Sobre a ideia de estarem lutando pelo futuro, pelas próximas gerações e principalmente pela família, o vídeo reforça o mote da campanha bolsonarista.
Sabendo que as mulheres são majoritariamente o eleitorado do Brasil e nela que Bolsonaro possui maior rejeição, a campanha do vigente presidente foca em tentar disputar o voto daquelas mulheres que estão indecisas e quebrar a resistência perante sua imagem. Para isso, se utiliza do fato da primeira dama ter falado primeiro no discurso de posse e expõe os projetos que realizou para as mulheres nos seus anos de mandato. Michele aparece na propaganda comunicando que se para alguns parece estranho os feitos do Bolsonaro para a pauta das mulheres é porque não conhecem o presidente[37].
O tema do programa de campanha do dia 15 de setembro foi segurança pública[38]. A partir de uma declaração de Lula sobre não aguentar mais ver jovens de 14 e 15 anos serem assassinados ou violentados pela polícia por roubarem um celular ou por serem inocentes, Bolsonaro se vangloria dos seu trabalho junto com a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal sobre o combate às drogas, seu vice Braga Netto aparece para comparar o número de apreensão das drogas no governo Bolsonaro e nos governos petistas. Fazendo um aceno para o público feminino, Michele novamente aparece fazendo um discurso contra as drogas, dizendo que elas destroem as famílias. Uma das propostas do candidato da extrema direita sobre a pauta é a de proteção para vítimas de violência doméstica e apoio social e jurídico.
A última propaganda eleitoral do período analisado é um ataque a Lula[39]. O assunto da matéria é acerca do debate de que o petista mente ao dizer que foi inocentado sobre as acusações de corrupção e o caso do triplex, para tal, são utilizadas diversos recortes de programas, a maioria da TV Globo, rede de comunicação do qual o atual presidente duramente crítica, para comprovar a teoria de que na verdade Lula ainda será julgado.
Conclusão
No dia 2 de outubro o povo brasileiro foi às urnas para decidir os rumos do país e não há dúvidas de que essas eleições são as mais importantes da história do Brasil desde o seu processo de redemocratização. A campanha televisionada de Lula na propaganda do horário gratuito eleitoral foi focalizada em rememorar como o país era em seus anos de governo e como pretende voltar para realizar novos e melhores avanços. Utilizando do saudosismo, Lula em diversos momentos deixa a população falar por ele, com recortes de entrevistas de múltiplos eleitores e eleitoras de todos os lugares do Brasil. O presidenciável em nenhuma das vezes citou nominalmente Bolsonaro, apenas indiretamente, deixava a propaganda mostrar as contradições e contrapontos do atual presidente para os seus feitos enquanto governou o país durante 8 anos e suas propostas para reconstruir o Brasil após 4 anos de retrocessos.
Bolsonaro por sua vez, opera com uma linguagem própria do seu nicho de apoiadores, influenciado pela política do ódio e do medo, o candidato da extrema direita utiliza-se da estratégia de um inimigo imaginário o “fantasma do comunismo” para manipular o eleitorado. Sabendo do poder decisório que as mulheres cumprem nesta eleição, inúmeras vezes fala para elas, empregando a imagem da primeira dama para passar essa mensagem. Com a estética das cores da bandeira do Brasil, símbolo de seu “patriotismo”, o atual presidente deixa nítido que o Brasil pode ser ainda melhor com sua reeleição e é capaz de até mesmo não aceitar o resultado das eleições, alegando que a urna eletrônica não é confiável.
Enquanto Lula tem como mote o “Brasil da esperança” e aborda o amor como o caminho de reconstrução do país, Bolsonaro fala sobre armas e de não aceitar o resultado das eleições caso o mesmo não ganhe, apresentando um tom autoritário. Dado o nível de polarização, o resultado do 1º turno foi o esperado, centrado nesses dois candidatos, não havendo o mínimo espaço para uma 3º via. Dessa forma, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, da Coligação Brasil da Esperança, ficou em primeiro lugar obtendo 57.259.504 votos (48,43% dos votos válidos) e Jair Bolsonaro, da Coligação pelo Bem do Brasil, em segundo lugar com 51.072.345 votos (43,20% dos votos válidos), sendo necessário um 2º turno para eleger o novo presidente da República.
A propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV no segundo turno das eleições começa a ser veiculada na próxima sexta-feira, dia 7 de outubro e vai até 28 de outubro, dois dias antes da votação, marcada para 30 de outubro. No segundo turno, a lei eleitoral estabelece que o tempo deve ser dividido igualmente entre os candidatos, onde cada um deles tem 10 minutos em cada bloco e será exibida de forma alternada entre os candidatos. Ou seja: como a propaganda de Lula começa na sexta, a de Bolsonaro será veiculada no sábado.
Neste segundo turno, o foco será em conquistar os votos dos ainda indecisos e dos eleitores que votaram nos demais candidatos que não chegaram ao 2º turno. A propaganda de Bolsonaro será focada nos eleitores do Nordeste e do Sudeste, campo decisivo para ser reeleito e seguirá com a estratégia de “ameaça comunista”. Já Lula buscará consolidar os votos já conquistados, apresentando em suas propagandas o que será possível fazer em seu eventual governo e conquistar o voto dos eleitores de Simone Tebet e Ciro Gomes.
[21] Graduanda em História na UFF e pesquisadora no NUBED/UFRJ.
[22] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV) – relembra seu governo e critica Bolsonaro (1º.set.2022)
[23] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV) – relembra seu governo e critica Bolsonaro (1º.set.2022)
[24] Lula (programa eleitoral 3min38seg. – TV): “Esperança para as mulheres” (3.set.2022)
[25] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV) – “Bolsonaro usa bandeira pra mentir” (6.set.2022)
[26] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV) – “Bolsonaro usa bandeira pra mentir” (6.set.2022)
[27] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV) – “Bolsonaro usa bandeira pra mentir” (6.set.2022)
[28] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV) – “Com saúde não se brinca” (8.set.2022)
[29] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV e internet): Chega de ódio
[30] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV e internet): Chega de ódio
[31] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV): “Bolsonaro é escândalo tamanho família“
[32] Lula (programa eleitoral 3min39seg. – TV): “Bolsonaro está acabando com o Brasil”
[33] Bolsonaro (programa eleitoral 2min38seg – TV) – “Governo de direita ensina a pescar”
[34] Bolsonaro (programa eleitoral 2min38seg – TV) – “Governo de direita ensina a pescar”
[35] Bolsonaro (programa eleitoral 2min37seg. – TV): exalta governo e apresenta propostas(3.set.2022)
[36] Bolsonaro (programa eleitoral 2min38seg. – TV): “valorização da mulher” (13.set.2022)
[37] Bolsonaro (programa eleitoral 2min42seg. – TV): Michelle fala sobre combate ao crime
[38] Bolsonaro (programa eleitoral 2min42seg. – TV): Michelle fala sobre combate ao crime(15.set.2022)
[39] Jair Bolsonaro (programa eleitoral 2min42seg. – TV): “a verdade sobre Lula” (15.set.2022)