O empresariado na política brasileira: influência, história e as eleições de 2022, por Allegra Levandoski
O Boletim #5 está no mundo!
Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?
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Confira o texto abaixo!
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O empresariado na política brasileira: influência, história e as eleições de 2022
Allegra Levandoski[49]
Resumo O presente texto é parte do projeto de pesquisa Monitoramento Eleitoral 2022 e tem como objetivo analisar de forma sumária as interações entre a esfera econômica e governamental. De forma mais específica, a agência e capacidade de influência do empresariado na política representativa.
Neste terceiro boletim, realiza-se uma introdução ao debate através dos casos do impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a campanha presidencial de Jair Messias Bolsonaro em 2018. Este boletim compõe uma série de mais outros dois textos, os quais vão analisar a eleição estadual à governador no Estado de São Paulo e a eleição presidencial sob a mesma luz.
Introdução
O ano eleitoral de 2022 se caracteriza como um período decisivo na história recente da democracia brasileira: o ponto de inflexão de dois projetos políticos distintos, de um lado a possível reeleição de Bolsonaro à Presidência e a concretização de sua autoridade, ou, por outro, a retomada do padrão social-democrático e de fortalecimento das instituições nacionais. Contudo, em um cenário marcado pela forte polarização social, reflexo da Operação Lava Jato e antipetismo – todos estes aspectos que podem ser associados com o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff -, cabe realizar o seguinte questionamento: “Qual é a influência da elite empresarial e da classe trabalhadora no ano de 2022, seja em nível nacional ou, como parte de um esforço de análise específica, nas eleições do Estado de São Paulo?”
Com interesse em responder essa pergunta, o presente artigo compõe uma série de 3 textos que visam se debruçar acerca da temática, sendo cada um deles referente a uma esfera de compreensão: 1) A elite empresarial, influência política e democracia; 2) A elite empresarial e a classe trabalhadora na política estadual de São Paulo; e, por fim, 3) Elite empresarial e trabalhadores: a disputa entre Bolsonaro e Lula à Presidência.
Portanto, como a ordem dos artigos sugere, trata-se de um inicial esforço de elaboração teórica sobre a classe social que poderia ser genericamente enquadrada como burguesia e, posteriormente, uma análise empírica dos posicionamentos desta e a classe trabalhadora em São Paulo e nível federal.
Este primeiro artigo se divide em 2 seções, mais a introdução e conclusões, uma forma de organização que visa elencar as informações apresentadas de forma encadeada e permitir uma introdução básica acerca do papel do empresariado na esfera governamental, assim como suas consequências.
Uma análise sobre o empresariado brasileiro
A primeira pergunta que surge à mente quando realizada uma análise sobre o empresariado, e, mais especificamente, o que pode ser considerado como elite é: Mas afinal, o que é a elite empresarial? Apesar da simplicidade da dúvida, é uma reflexão fundamental em termos teóricos e metodológicos, como sugere Paulo Roberto Neves Costa em seu texto Elite empresarial e elite econômica: o estudo dos empresários (2014), no qual desenvolve um esforço de compreensão básica da categoria.
O termo, na interpretação do cientista político, se refere a um conjunto diversificado de proprietários e dirigentes de empresas e do grande capital, assim como dos líderes de entidades representativas dos mais múltiplos setores industriais. Entretanto, a noção de elite empresarial revela um aspecto condicional e de posição relativa, ou seja, identifica a diferença de uma parte do grupo em relação ao restante da sociedade e/ou ao interior do próprio coletivo (NEVES COSTA, 2014)[50] .
Por fim, é necessário destacar o papel de representação, especialmente política, que a elite empresarial desempenha, de modo a tomar frente em processos decisórios, articulações governamentais e organização de interesses econômicos ━ mesmo que muitas vezes, contraditórios internamente.
E é sobre esse aspecto de poder de influência, comportamento e impactos na política nacional por parte da elite empresarial que o próximo tópico visa elaborar.
Influência e impactos da elite empresarial na política brasileira
Uma série de intelectuais como André Singer (2018)[51], Laura Carvalho (2018)[52] e Boito Jr. (2018)[53] se dedicaram a analisar e propor hipóteses acerca do período referente aos dois mandatos presidenciais de Dilma Rousseff.
Esses intelectuais, apesar de revelarem evidentes divergências acerca das causas para a perda de apoio de Dilma durante a implementação da Nova Matriz Econômica e de seu projeto desenvolvimentista, argumentam que uma mesma agenda de pesquisa se revela: A importância do papel político da elite empresarial durante o governo Dilma e a respectiva crise que resultou em seu impedimento (OLIVEIRA & HERSCOVICI, 2022).
Um exemplo concreto disso pode ser rememorado através das campanhas realizadas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), entidade que não apenas formalizou apoio a renúncia da ex-presidente, como financiou uma campanha a favor do impeachment. No período de 2015 a 2016, surgiu a emblemática imagem do pato inflável, como também a mensagem em páginas de diferentes jornais como na imagem abaixo:
O marketing visível na imagem apresentada reforça o argumento acerca da influência, interesse e capacidade de agência que diferentes organizações econômicas possuem na esfera política. É possível até mesmo destacar práticas de lobby e a publicização de deputados federais que votaram pró-impeachment como aspectos decisivos. Contudo, não foi apenas o contexto de 2016 e a crise do período que é útil para a análise aqui proposta. As eleições presidenciais de 2018 e o apoio à figura de Paulo Guedes também servem como argumento.
Em janeiro de 2018[54], em apoio à campanha de Jair Bolsonaro, foi criado o Movimento Brasil 200, o qual reunia uma série de líderes dos mais diferentes setores da economia para apoiar o ex-deputado ao pleito presidencial.
O grupo era organizado pelo dono da rede de roupas Riachuelo, Flávio Rocha, assim como por demais figuras proeminentes como Luciano Hang (Havan) e Antônio Alberto Saraiva – (Habib’s e rede Ragazzo), todos os quais afirmavam defender a agenda neoliberal e, como revela no próprio site oficial da organização: “[…] o Brasil 200 é composto de gente que resolveu tomar o lado do Brasil e não se omitir da construção de uma agenda política que ponha a nação em primeiro lugar” (MOVIMENTO BRASIL 200, 2018, apud BORTONE, 2019, p.11).
Conclusões
Este breve artigo teve como objetivo abordar, de forma inicial, uma das questões centrais da sociologia política, e da campanha eleitoral do ano de 2022: o posicionamento e a influência da elite empresarial nos processos institucionais e de representação. Nesse sentido, o processo de impeachment de Dilma Rousseff, assim como a eleição de Bolsonaro em 2018 servem como alguns dos principais exemplos acerca do relevante papel que o setor econômico possui ao agir em prol de uma agenda de austeridade, reforma trabalhista e demais demandas que devem ser atendidas pelo Estado.
Portanto, ao realizar uma análise sobre as eleições de 2022, seja em nível estadual ou federal, é fundamental considerar a forma de interação dos mais diferentes segmentos sociais e esferas para alcançar um panorama qualificado, e com o respectivo cuidado em não reduzir a uma leitura economicista acerca da realidade brasileira
[49] Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. É pesquisadora do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (LAPPCOM) da UFRJ e do Observatório Político e Eleitoral (OPEL).
[50] NEVES COSTA, Paulo Roberto. Elite empresarial e elite econômica: o estudo dos empresários. Rev. Sociol. Polit. Curitiba,, v. 22, n. 52, p. 47-57, dez. 2014.
[51] SINGER, André. O lulismo em crise: um quebra-cabeça do período Dilma (2011-2016). São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
[52] CARVALHO, Laura. Valsa brasileira: do boom ao caos econômico. São Paulo: Todavia, 2018.
[53] BOITO JR., Armando. Reforma e crise política no Brasil: os conflitos de classe nos governos do PT. Campinas, SP: Editora da Unicamp / São Paulo: Editora Unesp, 2018.
[54] (BORTONE, 2019).