Mulheres e as eleições 2022: segundo turno e cenário geral, por Carolina Tostes
O Boletim #10 está no mundo!
Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?
No sexto texto “Mulheres e as eleições 2022: segundo turno e cenário geral” (p. 32), a graduanda em Ciências Sociais Carolina Tostes analisa de forma inicial o tema das mulheres depois da realização do 2º turno das eleições do país.
Confira o texto abaixo!
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Mulheres e as eleições 2022: segundo turno e cenário geral
Carolina Tostes[38]
Resumo O presente texto faz parte da pesquisa do Projeto de Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo analisar de forma inicial o tema das mulheres depois da realização do 2º turno das eleições do país. Após um 1º turno marcado por campanhas femininas expressivas e temáticas acerca de mulheres como pautas centrais em debates, falas e eventos, o 2º turno também foi marcado pela disputa desse eleitorado por parte dos dois candidatos – Lula e Bolsonaro –, com participação de suas esposas e aliadas na linha de frente das campanhas. Nesse sentido, neste último boletim foram debatidas ações dessas importantes protagonistas, eventos marcantes relacionados ao tema e projeção do cenário geral daqui a frente. Para tal estudo, o recolhimento e seleção de materiais irá se concentrar em entrevistas escritas e gravadas para jornais e outros meios de comunicação, priorizando aqueles com maior alcance.
Primeiro turno: resultados e postura de figuras importantes
Assim como em 2018, o eleitorado feminino marcou as eleições de 2022 e foi uma aposta nas disputas dos votos dos dois candidatos à presidência neste segundo turno. Principalmente Jair Bolsonaro, que reúne maior rejeição desse grupo, piorada nos últimos 4 anos, apostou em sua campanha não só em falas direcionadas às mulheres – como em relação a supostos benefícios dados pelo seu governo – como também colocando a primeira dama Michelle e outras aliadas para formarem um comitê de apoio e articulação[39]. Chamada por jornalistas de “campanha paralela”, Michelle e a senadora e ex-ministra Damares Alves visitaram 35 cidades pelo Brasil entre 8 e 26 de outubro, com realização de eventos[40]. A imagem das duas também foi usada em propagandas eleitorais.
Impulsionando atividades principalmente em parceria com igrejas evangélicas, Michelle tomou a frente da campanha – assumindo uma postura diferente de 2018, em que teve pouca voz – para tentar suavizar a imagem de seu marido, visto com maus olhos por parte do eleitorado devido a falas machistas e agressivas. Em um culto denominado “Mulheres Vitoriosas”, feito em parceria com a pastora Elizete Malafaia (esposa de Silas Malafaia), a primeira dama chegou a dizer para a platéia: “Não olhe para meu marido, olhe para mim que sou uma serva do senhor”[41]. Ela relatou de forma pessoal que teve depressão quando o marido foi eleito, mas sentiu necessidade de se engajar no processo, já que estaríamos lidando com uma “guerra espiritual” no país.
Apesar dessa empreitada, o cenário não apareceu como positivo para Bolsonaro nas últimas semanas de campanha, principalmente no que se trata da avaliação do eleitorado feminino. Para aliados de Bolsonaro, eventos e declarações mais “extremistas” ou radicais, principalmente envolvendo a temática do armamento, afastariam os votos de mulheres[42]. Nesse sentido, o ex-deputado Roberto Jefferson, envolveu-se em confusão com a polícia federal que cumpria um mandado de prisão em sua casa, chegando a atirar e atingir uns dos agentes. Esse caso ocorreu em conjunto com a fala de Bolsonaro na semana anterior, em que ele se referiu a uma interação com jovens venezuelanas com a definição de que “pintou um clima”, causando alta rejeição nas redes sociais e exigindo, inclusive, retratação pública sobre o tema, ao lado da esposa Michelle e da representante de Juan Guaidó, María Teresa Belandria.
Carla Zambelli e o retrato do bolsonarismo
A deputada federal Carla Zambelli (PL), reeleita para seu mandato no 1º turno com a segunda maior votação de São Paulo, atrás apenas de Guilherme Boulos (PSOL), é uma fiel aliada de Bolsonaro e dos seus ideais. Apesar de sempre se envolver em confusões, a deputada participou de um episódio que está gerando investigações[43]. No sábado (29), exatamente um dia antes da eleição, Zambelli correu atrás de um homem – identificado posteriormente com um jornalista – empunhando uma arma, depois de uma discussão política. Ela alegou ter sido empurrada por ele, porém vídeos de pessoas que estavam no local mostram que Carla na verdade tropeçou no meio fio. A repercussão do caso causou polêmica entre os próprios meios bolsonaristas, já que, pode ter sido um fator decisivo, em conjunção com os outros citados, para afastar o eleitorado indeciso.
Simone Tebet e o engajamento na campanha de Lula
A ex-senadora Simone Tebet, que reuniu 4,2% dos votos, ocupando o 3º lugar na disputa presidencial do 1º turno, apesar de ter assumido uma postura de alternativa da chamada terceira via, sendo crítica tanto a Lula quanto a Bolsonaro, no 2º turno mergulhou na empreitada de eleger o petista. Simone compôs o horário eleitoral de Lula, além de ter participado ativamente de diversos eventos públicos no objetivo de conquistar seu eleitorado e transferir seus votos para o candidato[44]. Ao lado da deputada Marina Silva (REDE), nome histórico da política brasileira, principalmente nos temas relacionados ao meio ambiente, Lula conseguiu forte presença feminina em agendas e reuniões – impulsionadas também por sua esposa Janja. Projeções para o ano que vem indicam que as duas irão assumir algum Ministério no novo governo.
Cenário geral: eleitas, projeções e possibilidades daqui para frente
O número de deputadas eleitas nacionalmente foi de 91, 14 a mais que em 2018. A bancada, que antes era de 15%, agora representa 17,7% dos nomes[45]. No país inteiro, apenas o Rio Grande do Norte e Pernambuco elegeram governadores mulheres, sendo elas Fátima Bezerra (PT) e Raquel Lyra (PSDB), eleita no 2º turno com 58,7% dos votos, contra Marília Arraes (Solidariedade)[46]. Apesar de tentativas de incentivos eleitorais aos partidos para maior representação feminina e impulsionamento de candidaturas cada vez mais plurais, o número de eleitas em todos os cargos nacionais e estaduais não expressa a realidade da composição da população brasileira e nem dos avanços e importância das temáticas.
Porém, com a eleição de Lula, não só o incentivo a programas e políticas sociais, como também a participação feminina em cargos importantes e articulações deve crescer. É importante lembrar que a única mulher presidente na história do país, Dilma Rousseff, faz parte do mesmo partido do presidente reeleito para seu segundo mandato. Além disso, o casamento de Lula com a socióloga Janja, que se considera feminista e é uma militante engajada no Partido dos Trabalhadores, aponta para uma renovação dos debates também com um eleitorado mais jovem e digital – como já demonstrado na campanha a partir de reuniões com artistas e influenciadores digitais[47]. Por outro lado, a postura das deputadas eleitas com apoio de Bolsonaro, como a própria Carla Zambelli, ou Bia Kicis (PL-DF), ou da eleita senadora Damares Alves, ainda é uma incógnita, já que, diferente dos últimos 4 anos, elas serão oposição.
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[38] Carolina Tostes é graduanda de Ciências Sociais na UFRJ e pesquisadora do NUDEB/IFCS.
[44] https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/30/simone-tebet-lula.htm
[45] https://www.camara.leg.br/noticias/911406-bancada-feminina-aumenta-18-e-tem-2-representantes-trans/
[46] https://www.poder360.com.br/eleicoes/bezerra-e-lyra-sao-as-unicas-governadoras-eleitas-em-2022/