Eleições para deputado estadual: uma análise sobre as candidaturas de Rosenverg Reis, Marcelo Dino e Zito, por Isabel Uchôa
O Boletim #7 está no mundo!
Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?
No sétimo texto “Eleições para deputado estadual: uma análise sobre as candidaturas de Rosenverg Reis, Marcelo Dino e Zito” (p.37-43), a mestranda em Ciências Sociais Isabel Uchôa aborda algumas das candidaturas a deputado estadual do Rio de Janeiro de personalidades que têm a região da Baixada Fluminense (RJ) como o local de maior concentração de seu eleitorado.
Confira o texto abaixo!
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Eleições para deputado estadual: uma análise sobre as candidaturas de Rosenverg Reis, Marcelo Dino e Zito
Isabel Uchôa[54]
Resumo O presente trabalho tem como objetivo abordar algumas das candidaturas a deputado estadual do Rio de Janeiro de personalidades que têm a região da Baixada Fluminense (RJ) como o local de maior concentração de seu eleitorado, sendo essas: Rosenverg Reis (MDB), Marcelo Dino (União Brasil) e José Camilo Zito dos Santos (PSD), utilizando como lente teórica uma literatura acadêmica que caracteriza perfis de candidatos. Esse texto também faz parte do Dossiê “A Baixada Fluminense e as Eleições de 2022”, editado pelo LAPPCOM.
As eleições para deputado estadual na Baixada Fluminense
Considerando as distintas candidaturas a deputado estadual de personalidades que ascenderam politicamente na região da Baixada Fluminense, observamos três que constituem um interessante potencial analítico: (i) Rosenverg Reis (MDB), uma figura que possui uma afinidade com o campo por sua ligação com a trajetória do irmão Washington Reis, personagem central na história recente de Duque de Caxias; (ii) Marcelo Dino, candidato que já participa como figura política no município de Duque de Caxias desde 2008 e que associou-se a um discurso conservador em alta nos últimos anos; e (iii) José Camilo Zito dos Santos, que marcou a história do município de Duque de Caxias dos últimos 20 anos, tendo, portanto, uma afinidade com o campo e uma carreira política de longa data.
Tais candidatos a deputado estadual possuem trajetórias distintas que merecem uma lente teórica passível de diferenciá-los. Dessa forma, utilizando como base a literatura que delimita uma tipologia de candidatos e estratégias eleitorais, classificando-os entre candidatos anti-establishment, outsiders, mavericks e insiders (Barr, 2009; Carreras, 2012; Buisseret e Van Weelden, 2019), esse texto busca caracterizar os três candidatos a deputado estadual apresentados, com o objetivo de oferecer uma melhor compreensão de suas trajetórias políticas particulares. É importante ressaltar, no entanto, que, por tratar-se de uma literatura estrangeira, essas definições podem ter limitações quanto aos candidatos aqui abordados.
Os candidatos e suas trajetórias locais
Rosenverg Reis
Rosenverg Reis é irmão do ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB). O ex-prefeito é uma figura amplamente conhecida no município, tendo governado por 3 mandatos, de 2005 a 2008, e de 2017 a 2022. Nas eleições de 2022, Washington Reis abriu mão de seu cargo para candidatar-se a vice- governador do Rio de Janeiro ao lado de Cláudio Castro (PL), que tenta reeleição, mas o ex-prefeito renunciou sua candidatura após essa ter sido indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE)[55]. Nascido em Duque de Caxias, a trajetória política de Rosenverg Reis tem início em 1992, quando foi assessor de seu irmão, que, na altura, ainda era vereador do município. Posteriormente, continuou na função de assessorar Washington Reis durante os anos em que seu irmão compôs a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) e, por fim, durante o primeiro mandato de Washington como prefeito de Duque de Caxias. Em 2010, Rosenverg também foi candidato a deputado estadual e tornou-se o 1º suplente. O irmão do ex-prefeito de Duque de Caxias assumiu, então, o cargo quando Rafael Picciani deixou o mandato para comandar a Secretaria de Estado e de Habitação. Rosenverg conquistou uma base eleitoral em Duque de Caxias ao aliar-se à trajetória política de Washington e foi eleito em 2014 e reeleito em 2018 como deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Grande parte das passeatas e encontros públicos organizados para a promoção da campanha de 2022 de reeleição de Rosenverg foram realizados em Duque de Caxias e outros municípios da Baixada Fluminense, região de foco de seu eleitorado. Ademais, vale ressaltar que, além de Washington Reis, Rosenverg também possui outro irmão: Gutemberg Reis (MDB), deputado federal pelo Rio de Janeiro desde 2018 que tenta reeleição, obtendo amplo apoio dos vereadores do município de Duque de Caxias[56].
Assim como Washington e Gutemberg, Rosenverg Reis também é evangélico e ligado à Igreja Assembleia de Deus. É inevitável, assim, que esse fator influencie em sua perspectiva e em seus discursos. Outro aspecto importante da campanha de Rosenverg é o fato de que, com a coligação entre MDB e PL, a chapa do deputado estadual, além de ter expressado apoio à aliança Castro-Reis para o governo do estado, também dá suporte à reeleição do presidente da República Jair Bolsonaro (PL).
Portanto, Rosenverg participa da vida política do município desde 1992 e exerce uma função política legislativa desde o ano de 2011, quando assumiu como suplente o cargo de deputado estadual no lugar de Rafael Picciani. Sendo assim, a partir da literatura de tipologia de candidatos, deveríamos classificá-lo enquanto um insider (Barr, 2009; Carreras, 2012), ou seja, como um candidato que já possui uma trajetória política e que compõe o sistema político por meio de um partido tradicional.
Marcelo Dino
Durante as eleições municipais de 2020, Marcelo Dino foi o principal rival de Washington Reis na disputa para o cargo de prefeito do município de Duque de Caxias. Marcelo (na época filiado ao PSL) conquistou o segundo lugar. Também durante esse período eleitoral de 2020, Marcelo Dino chegou a obter o apoio do presidente Jair Bolsonaro, que posteriormente desistiu dessa aliança e passou a apoiar nas eleições daquele ano o candidato vencedor. Nas eleições de 2022, no entanto, Marcelo Dino (atualmente filiado ao União Brasil) está na disputa pela reeleição como deputado estadual do Rio de Janeiro, cargo que já ocupa desde o ano de 2018. Apesar de ter nascido em São João de Meriti, o deputado estadual tem como base eleitoral principal o município de Duque de Caxias, onde já foi vereador, e realizou neste ano diversas caminhadas para sua campanha nos bairros da região. Em 2008, Marcelo Dino saiu vitorioso das eleições e assumiu pela primeira vez o cargo de vereador do município, sendo reeleito em 2013.
O deputado apresenta-se como conservador e evangélico. O candidato à reeleição se opôs ao Projeto de Lei 4257/2018, que proíbe o assédio religioso em ambientes privados e públicos no estado do Rio de Janeiro e que busca combater a intolerância religiosa. Para o deputado estadual, em discurso na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ)[57], esse Projeto de Lei fere a liberdade religiosa cristã. Marcelo Dino citou ainda que, enquanto vereador de Duque de Caxias no ano de 2011, lutou dentro da Câmara Municipal de Duque de Caxias contra a chamada “ideologia de gênero” dentro das escolas, que pregava o “homossexualismo”, segundo o deputado.
Ademais, como Policial Militar, Marcelo Dino também demonstra-se preocupado com pautas relacionadas à segurança pública e medidas de auxílio a policiais militares. Portanto, visto isso, podemos afirmar que tais características encaixam-se no que Barr (2009) e Carreras (2012) classificaram como insider. Apesar de ser filiado ao União Brasil, um partido recentemente criado, esse se trata da junção entre os antigos Partido Social Liberal (PSL) e Democratas, dois partidos tradicionais do sistema político brasileiro, não podendo, então, ser considerado como, propriamente, um novo partido no sistema.
Zito
Outro candidato importante para o cenário político da disputa pelo cargo de deputado estadual na Baixada Fluminense é José Camilo Zito dos Santos (PSD), mais conhecido apenas como Zito, que foi prefeito do município de Duque de Caxias durante três mandatos: 1997 a 2000, 2001 a 2004 e de 2009 a 2012. Como uma figura importante da história recente do município, Zito pode ser, portanto, assim como Rosenverg Reis e Marcelo Dino, caracterizado como um insider (Barr, 2009; Carreras, 2012). O ex-prefeito deu início a sua trajetória política em 1988 como vereador, cargo que ocupou até o ano de 1994, quando foi também presidente da Câmara Municipal de Duque de Caxias. Também nesse ano, foi eleito deputado estadual pelo PSDB. Em 1996, foi eleito pela primeira vez como prefeito do município. Zito ainda chegou a ocupar o cargo de deputado estadual outras vezes, posteriormente: de 2007 a 2008 e de 2015 a 2018.
O ex-prefeito obteve, no auge de sua carreira política em Duque de Caxias, uma alta aprovação popular. Dessa forma, utilizou-se dessa alta taxa aprovação para eleger seus familiares a cargos políticos em Caxias e municípios adjacentes, como foi o caso de: Narriman Felicidade Correa de Faria, ex-esposa de Zito, que foi prefeita de Magé de 2001 a 2004; e Claise Maria Alves, também ex-esposa de Zito, que já ocupou o cargo de deputada estadual pelo PSDB em 2010. Zito também ajudou a eleger Andreia Zito, sua filha, que, em 1998, foi eleita deputada estadual pelo PSDB, além de ter sido deputada federal pelo Rio de Janeiro de 2007 a 2015. Andreia também candidatou-se à prefeitura de Duque de Caxias em 2020, mas perdeu para Washington Reis no primeiro turno. Nas eleições de 2022, a filha de Zito concorre novamente ao cargo de deputada federal, também pelo PSD, assim como seu pai. Waldir Zito, irmão do ex-prefeito de Duque de Caxias, também conquistou cargos públicos: foi prefeito do município de Belford Roxo entre 2001 e 2004, pelo PPS. Portanto, Zito alavancou uma série de familiares — sendo esses duas ex-esposas, um irmão e uma filha — para cargos políticos, aproveitando-se de sua popularidade no município de Duque de Caxias e na região da Baixada Fluminense como um todo.
Em sua campanha para deputado estadual em 2022, Zito conta com apoio de Rodrigo Neves (PDT), candidato a governador do Rio de Janeiro. Neves busca a aliança com Zito com o objetivo de frear o avanço de Cláudio Castro (PL) na Baixada Fluminense, região na qual o atual governador possui amplo apoio eleitoral. Por meio de sua página oficial no Facebook, Zito já anuncia seus planos de candidatar-se a prefeito de Duque de Caxias nas eleições municipais de 2024[58] .
Em uma sessão realizada no dia 12 de setembro, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) rejeitou a candidatura de Zito a deputado estadual, devido a uma condenação por improbidade administrativa no período em que Zito governava o município de Duque de Caxias[59]. No entanto, o ex-prefeito mantém sua campanha ativa e afirmou nas redes sociais que irá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Zito participou, inclusive, de uma livestream em sua página oficial no Facebook a respeito do julgamento realizado pelo TRE[60].
Conclusão
As três trajetórias distintas dos candidatos nos ajudam a compreender não apenas os perfis individuais de cada um por meio de uma abordagem teórica, como também o campo político da Baixada Fluminense, marcado por um apoio a candidatos tradicionais, presença de fortes lideranças individuais e de políticas clientelistas, e adesão ao bolsonarismo como um movimento presente também na esfera local. A Baixada Fluminense apresenta-se, inclusive, como um território eleitoral disputado por candidatos do campo estadual, como foi o caso da aliança entre Rodrigo Neves e Zito, de modo a combater a ascensão de Cláudio Castro como favorito na região, principalmente quando o governador estava ao lado de Washington Reis na disputa eleitoral. Além disso, em 2020, a Baixada também foi palco de interesse do presidente da República, que chegou a aliar-se a Marcelo Dino, na época candidato a prefeito. Posteriormente, o presidente abriu mão de seu inicial candidato para apoiar Washington Reis na disputa. Dessa forma, a região da Baixada Fluminense não encontra-se isolada em seus conflitos políticos locais, ocupando um papel decisivo nas questões estaduais e mesmo nacionais no período eleitoral.
[54] Mestranda em Ciências Sociais pelo PPGCS/UFRRJ e Bacharel em Ciências Sociais pela UFRJ. Atua como pesquisadora no LAPPCOM e no NUDEB.
[55] FIGUEIREDO, Pedro. Após impugnação, Washington Reis desiste da candidatura de vice-governador na chapa de Castro. G1, 2022. Disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/eleicoes/2022/noticia/2022/09/09/apos-ter-impugnacao- washington-reis-desiste-da-candidatura-de-vice-governador.ghtml
[56] Segundo o levantamento realizado por Victor Escobar David, apresentado no texto “Os vereadores da Baixada Fluminense como brokers: a ligação entre o deputado e o eleitor”, trabalho que compõe o Dossiê “A Baixada Fluminense e as Eleições de 2022”, editado pelo Lappcom.
[57] https://www.facebook.com/watch/?v=969581866968281
[60] https://www.facebook.com/zitonarede/videos/818256446196697