DESASTRE NO MAR – AS UNIVERSIDADES DE MÃOS DADAS COM O BRASIL
Desde o final do mês de agosto de 2019, as praias do litoral nordestino vêm sendo atingidas por manchas de óleo provenientes de um vazamento cuja origem, até início de novembro, ainda não havia sido identificada. Nos últimos dois meses o óleo já havia atingido cerca de um terço do litoral brasileiro, quase 300 praias e 100 municípios em 9 estados do Nordeste.
O governo federal vem sendo acusado de omissão em combater o desastre cujas consequências são ainda imensuráveis para o ecossistema marítimo das regiões afetadas e para a sobrevivência dos que vivem das atividades econômicas ligadas à pesca e ao turismo. No dia 17/10, o MPF entrou com uma ação contra a união, por estar sendo omissa ao protelar medidas protetivas e não atuar de forma articulada na região atingida pelos vazamentos, não acionando a tempo o Plano Nacional de Contigência (PNC). O plano que deveria ter sido acionado no dia 2 de setembro o só entrou em vigor 41 dias depois, em 11 de outubro O governo federal também extinguiu, no começo de 2019, dois comitês que integravam o PNC.
Causaram polêmica ainda as afirmações do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, no twitter, que insinuou que a ONG Greenpeace seria responsável pelo vazamento e a declaração do secretário da pesca que afirmou que, por ser um animal inteligente, o peixe é capaz de fugir do óleo.
A falta de transparência por parte de órgãos governamentais como o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (que já havia exonerado seu diretor em julho desse ano por revelar dados sobre desmatamento) e da própria Petrobrás também levantam suspeitas de censura e preocupam cientistas e pesquisadores.
Diante da omissão do governo federal e da falta de autonomia dos institutos a ele ligados, as universidades públicas têm tomado a dianteira no combate ao desastre ambiental que o vazamento de óleo representa. Pesquisadores e institutos de pesquisa vêm reunindo esforços para denunciar, identificar, conter e prevenir a população sobre os riscos, e reduzir os danos causados pelo vazamento de óleo.
O Observatório do Conhecimento reuniu alguma dessas iniciativas encampadas pelas universidades públicas e que têm sido fundamentais para ajudar o país no maior desastre ambiental:
1- Pesquisadora critica demora do governo federal em acionar o PNC
A oceanógrafa e professora da Universidade Federal de Pernambuco Monica Ferreira da Costa diz que “o litoral do Brasil é todo mapeado sobre sua sensibilidade à poluição por óleo” e que temos “documentos de excelente qualidade para isso”. “Um país que estava com informação na mão não podia deixar esse espalhamento acontecer. Em um mês, teríamos capacidade de proteger muitos ambientes.”
2 – Yara Schaeffer Novelli, doutora e professora sênior da Universidade de São Paulo (USP), denuncia inoperância do governo.
A professora foi a primeira perita judicial da primeira ação civil pública movida no Brasil por dano ambiental, em 1983, num rompimento de oleoduto da Petrobras na Baixada Santista.”
3 – Institutos de pesquisa, cientistas e defensores do meio ambiente lançam carta aberta solicitando transparência e efetividade nas ações do governo federal de combate ao óleo do Nordeste.
4 – No início de outubro, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) alerta para o impacto das manchas de petróleo no litoral
Pesquisador da vida marítima, com participação em expedição oceanográfica internacional, o professor Cláudio Sampaio, responsável pelo Laboratório de Ictiologia e Conservação do Campus Arapiraca, coordenador do Projeto Meros do Brasil em Alagoas e professor de Engenharia de Pesca e de Licenciatura em Ciências Biológicas da Unidade de Penedo da UFAL, está bastante preocupado com o impacto das manchas de petróleo detectadas no litoral nordestino.
Segundo o pesquisador, o petróleo foi encontrado em todos os estados do Nordeste, em mais de 135 localidades. Só em Alagoas, cerca de 10 municípios e 15 praias já foram atingidos. “A sociedade ainda não se deu conta da tragédia que está acontecendo em nossas praias e suas consequências. Apesar dos impactos negativos e grandes prejuízos à economia e ao ambiente, pouco se sabe sobre a origem desse petróleo”, questiona Cláudio Sampaio.
5 – Análise de pesquisador da Universidade Federal de Sergipe (UFS) encontra semelhanças entre óleo de barris e óleo cru das praias do NE
Análise feita no dia 11/10, pelo pesquisador Alberto Wisniewski da UFS, concluiu que há fortes indícios que o óleo que estava dentro de barris descobertos no litoral do estado é o mesmo das manchas de petróleo cru de origem desconhecida que começaram a atingir as praias do Nordeste no início de setembro. O resultado contradiz avaliação feita pela Marinha na quinta-feira (10) de que não se tratava do mesmo óleo.
6 – Universidade Federal da Bahia (UFBA) cria técnica para usar resíduos de óleo em mistura para asfalto. Material pode ser aproveitado também em blocos de construção
Pesquisadores da UFBA estão tentando minimizar os efeitos negativos do óleo recolhido nas praias do litoral do Nordeste. Eles criaram uma técnica que transforma o óleo em um tipo de carvão granulado, que pode ser usado como mistura para asfalto e blocos de construção, como explica a professora Zenis Novais.
7 – Universidade Federal de Pernambuco promove estudo para identificar grau de toxicidade do óleo vazado
O material recolhido será analisado no laboratório Organomar, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que fechou parceria com a Agência Estadual de Meio Ambiente – CPRH para fazer os estudos.
8 – Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) encontraram presença do óleo nos aparelhos digestivos e respiratórios de peixes e mariscos recolhidos em locais atingidos pela substância em Praia do Forte, Itacimirim e Guarajuba.
Os dados da pesquisa foram divulgados no dia 24/10/2019 pelo professor e pesquisador Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia (Ibio) da instituição de ensino, que está à frente do estudo.
O professor contou que 38 animais, incluindo moluscos e crustáceos, foram recolhidos, no último final de semana, para a pesquisa e que todos eles apresentaram óleo no corpo. Outros 12 animais capturados na mesma região ainda estão sendo analisados.
9 – Cientistas da UFRJ delimitam 3 áreas que poder a origem do vazamento de óleo do Nordeste
um grupo de pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que tem investigado a origem do vazamento a pedido da Marinha afirma que está mais perto de determinar onde o vazamento ocorreu.
Os cientistas apontaram três áreas entre 350 km e 600 km da costa de Sergipe, Pernambuco e Alagoas que têm maior probabilidade de abrigar a origem do derramamento de óleo e então avaliaram as chances de cada uma.
Os locais foram escolhidos a partir de modelagem inversa, que mapeia o óleo do litoral até sua provável origem, e do refinamento e cruzamento de dados, informações e variáveis como profundidade marinha, correntes marítimas e ação do vento.
10 – Força-tarefa da Ufal pesquisa como reduzir danos causados pelo óleo nas praias de Alagoas
Uma força-tarefa formada por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas está monitorando e avaliando os danos causados pelo óleo nas praias de Alagoas. Os pesquisadores estão buscando maneiras de reduzir os danos.
O pesquisador pós-doc em Biodiesel, Alan Albuquerque, falou sobre a pesquisa que está buscando separar o óleo da areia da praia.
“A tendência da pesquisa é a gente caracterizar primeiramente esse óleo para então pode saber qual os métodos de separação que a gente pode fazer, já que essa quantidade de resíduos que tem sido gerada tem sido da ordem de toneladas”, disse Alan Albuquerque.
Ele explicou também que se os materiais forem separados, podem ter outras utilidades.