O Boletim #9 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

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Confira o texto abaixo!

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A escalada da violência política nas eleições presidenciais Letícia Rodrigues Ferreira [1]

Resumo O presente texto é parte da pesquisa do Projeto de Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo analisar a violência política. Esse tema se tornou urgente nessas eleições, diante do aumento de casos na política brasileira. Neste boletim, a violência nas eleições presidenciais será comparada a de 2018. As informações utilizadas foram retiradas do levantamento feito pela Agência Pública, além do levantamento da ONG Terra de Direitos e matérias jornalísticas de veículos de notícias com grande notoriedade.

Uma retrospectiva

Em 2018, o então candidato Jair Bolsonaro transformou a forma de fazer campanha presidencial, utilizando-se de um discurso inflamado e agressivo que atraiu milhares de seguidores e criou uma nova realidade na política nacional. A tensão criada entre seus eleitores e eleitores de políticos adversários trouxe consequências ainda não vistas desde a redemocratização.

Naquele ano, falas como “fuzilar a petralhada” e “minoria tem que se curvar a maioria” se tornaram comuns em seus comícios. Foram feitos inimigos do que o então presidenciável chamava de “cidadão de bem”. Como consequência, a imprensa foi atacada, casos de agressão a minorias foram relatados, e assassinatos por motivação política foram registrados. Esse discurso também despertou agressividade de pessoas adversas aos princípios bolsonaristas, tendo sido Bolsonaro vítima de um atentado enquanto estava em um comício.

O discurso agressivo bolsonarista não parou de ser ecoado ao longo de seu governo. As minorias sociais, sobretudo, foram alvo de hostilidades por parte dos eleitores do então presidente, o que se agravou com a campanha eleitoral. Visando o segundo mandato, o presidente mais uma vez vem inflando a população com discursos que são categorizados como “bem contra o mal” e “nós contra eles”, segregando tudo aquilo que não se encaixa nos seus interesses.

Eleição presidencial de 2018

Em março de 2018, a vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, Marielle Franco, foi brutalmente assassinada dentro do seu carro no centro da cidade. Esse crime impactou fortemente o país, tendo sido comemorado por personalidades identificadas como bolsonaristas na ocasião, como Rodrigo Amorim, que se tornaria deputado estadual, Daniel Silveira, que seria eleito deputado federal e o juiz Wilson Witzel, eleito governador do Estado. Nesse ano, o candidato à presidência Jair Bolsonaro, até então deputado federal do “baixo clero”, se destacou com um discurso de campanha feroz. Saudosista da ditadura militar, bem assessorado no uso das das novas tecnologias e disseminador de campanhas de fake news, o candidato sempre incentivou a violência contra minorias, refletindo em casos, como por exemplo, o do assassinato de Moa do Katendê, capoeirista de 63 anos morto com 12 facadas em Salvador4 e Jullyana Barbosa, uma mulher transsexual, atacada com barras de ferro, enquanto os agressores exaltavam Bolsonaro, em Nova Iguaçu5. Entre os alvos de seu impulso de destruição, estavam a imprensa, as políticas progressistas, as pautas de direitos humanos, os movimentos sociais como Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) etc.

O clima de rivalidade se alastrou pelo país, causando diversas ameaças, lesões e mortes, em maioria causada por seus eleitores, que se sentiram endossados pelas palavras do candidato para agir com agressividade. Esse clima inflamou ataques a ambas campanhas que concorriam na ocasião, a do petista Fernando Haddad e a do próprio Jair Bolsonaro. De acordo com analistas de segurança, a eleição de 2018 foi considerada a mais violenta da história do Brasil desde o fim da ditadura cívico-militar, o levantamento do site Vítimas da Intolerância totalizou quase 60 ocorrências ligadas às eleições, já o Violência Política no Brasil contabilizou 133. Sendo destaque o grande número de mortes, lesões e ameaças6.

Eleição de 2022, um novo recorde de violência

Neste ano, em uma eleição ainda mais concorrida, a violência se fez mais presente. O candidato à reeleição Bolsonaro subiu o tom de seu discurso, demonizando o adversário, o ex-presidente Lula e seus eleitores. A falácia da possibilidade da instalação de um regime comunista se transformou em base para sua nova campanha de “bem contra o mal”.

Em todo seu mandato, casos de violência causada por seus apoiadores foram registradas e na reta final para o primeiro turno a ONG Terra de Direitos identificou aumento de 400% de violência política em comparação ao ano de 20187.

A análise feita pela Agência Pública é ainda mais preocupante. Este levantamento inclui em sua pesquisa as violências psicológicas e morais, registrando ao menos 3 casos de violência por dia, quando considerados os números apenas desde o começo da campanha, isto é, de 16 de agosto até o fim do primeiro turno em 2 de outubro (excluindo o assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda pelo policial bolsonarista Jorge Guaranho em Foz do Iguaçu).

Entre as vítimas, Benedito Cardoso dos Santos foi esfaqueado após uma discussão política, durante a qual o autor do crime defendia o candidato Bolsonaro.8

O bolsonarismo também vem se utilizando da lógica hierárquica para coagir os eleitores a votar de acordo com os interesses das pessoas em posição de poder. Empresários e políticos ameaçam demissões, redução de salários e prometem promoções de acordo com o resultado das eleições. Já líderes religiosos citam até mesmo punição divina caso o eleitor religioso vote em Lula.

Em todo o Brasil, também foram registrados crimes contra a propriedade por motivação política. Como é o caso do apartamento que foi alvejado por ter uma bandeira do Partido dos Trabalhadores em sua janela.9

No dia 02 de outubro, algo inédito foi registrado por diversas zonas eleitorais. Ataques às urnas eletrônicas, mesários e até mesmo a policiais que trabalhavam em colégios eleitorais foram registrados. Houve desde eleitor tentando votar duas vezes10 um policial sendo ferido com faca.11

Conclusão

Observando os dados, o movimento político de Bolsonaro e do bolsonarismo é violento, se impondo por meio do uso da força, transgredindo qualquer regra social para se estabelecer no poder, desrespeitando a diversidade etnico-cultural e banalizando a vida de todos aqueles que não concordam com as suas colocações. Ainda neste tema, devemos observar as opressões sistemáticas sustentadas por bolsonaristas que estão em altos cargos em hierarquias sociais, como a classe empresarial, os líderes religiosos e os políticos apoiadores desse candidato. Seu discurso tem semeado a divisão do país e abre margem para movimentos antidemocráticos e danosos na sociedade brasileira.

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[3] Graduanda em Ciências Sociais pela UERJ.

[4] https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/09/politica/1539112288_960840.html

[5] https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10/10/transexual-agredida-rio-apoiadores-bolsonaro.htm

[6] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/eleicao-de-2018-sera-lembrada-pelos-casos-de-violencia-dizem-analistas.shtml

[7] https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2022/10/violencia-politica-em-2022-cresce-400-em-comparacao-com-2018-diz-estudo.shtml

[8] https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2022/09/26/apoiador-de-lula-foi-morto-com-mais-de-70-golpes-de-faca-e-machado-aponta-policia-civil.ghtml

[9] https://revistaforum.com.br/brasil/nordeste/2022/9/21/apartamento-com-bandeira-do-pt-na-janela-alvo-de-tiros-na-madrugada-desta-quarta-123620.html

[10] https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/10/5041139-homem-tenta-votar-duas-vezes-e-urna-e-impugnada-em-lisboa.html

[11] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/10/eleitor-fere-policial-com-faca-no-rio-grande-do-sul.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha

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