O Boletim #8 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No quinto texto, “Debates presidenciais e a pauta das mulheres: resultado do 1o turno e primeiras impressões”, a graduanda em Ciências Sociais Carolina Tostes analisa a expressividade do voto feminino nas pesquisas eleitorais, em concomitância com a abrangência do tema na opinião pública, principalmente no que tange aos debates presidenciais.

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Debates presidenciais e a pauta das mulheres: resultado do 1º turno e primeiras impressões
Carolina Tostes[51]

Confira o texto abaixo!

Resumo

O presente texto é parte da pesquisa do Projeto de Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo analisar a expressividade do voto feminino nas pesquisas eleitorais, em concomitância com a abrangência do tema na opinião pública, principalmente no que tange aos debates presidenciais. Além da participação ativa de mulheres como candidatas em diversos cargos dessas eleições, o tema do feminismo e da desigualdade de gênero tem aparecido com força no vocabulário de diversas figuras públicas há algum tempo. Nesse sentido, neste boletim foram debatidas a performance e retórica dos candidatos durante os debates presidenciais sobre a temática feminina e seu desempenho junto a esse eleitorado a partir de pesquisas e repercussões públicas. Também foi inserido à posteriori algumas primeiras impressões sobre o resultado das eleições, que serão melhor desenvolvidas no próximo boletim. Para tal estudo, o recolhimento e seleção de materiais irá se concentrar em dados obtidos pelos principais Institutos, como DataFolha, matérias de jornais como O Globo e Folha de São Paulo, nos debates na íntegra e informações primárias do quantitativo de votos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Pesquisas, clima geral e opinião pública durante o 1º turno

A diferença de intenção de votos entre mulheres e homens nas eleições de 2018 bateu recordes históricos e iniciou o debate sobre o papel decisivo das mulheres no resultado das eleições do país[52]. Uma pesquisa do DataFolha, feita logo após os atos nacionais massivos denominados “Ele Não”, em setembro daquele ano, contabilizou 46% de rejeição do presidente Jair Bolsonaro (PL), que ainda assim seria vitorioso alguns dias depois[53]. Esse dado, junto de outras pesquisas, indicou que Bolsonaro poderia ter sido eleito no 1º turno a partir da votação de homens brancos, também perfil da maioria de seus apoiadores mais fiéis depois desses quatro anos. Esse cenário traz à tona o papel decisivo das mulheres nos rumos da democracia do país, e seu protagonismo em temas que fazem parte da vida da população.

Em 2022 o cenário não está sendo diferente. Apesar de as últimas pesquisas terem demonstrado que o eleitorado feminino é a maior parte dos que declaram poder mudar voto ou não escolhem ninguém de forma espontânea, a rejeição de Bolsonaro seguiu durante todo o 1º turno altíssima[54]. O ex-presidente e candidato Lula (PT) acumulou 49% da intenção de voto das mulheres, contra 29% de Bolsonaro[55]. Ambos os principais nomes na disputa passaram a dar protagonismo para suas esposas durante a campanha eleitoral. Michelle Bolsonaro e Rosângela da Silva (Janja) têm participado de eventos públicos e dialogado com os eleitores. Esse “apelo” pode ser entendido como uma forma de se comunicar com esse nicho, como as mulheres evangélicas – a partir da defesa da família por Michelle ou por uma linguagem mais progressista do amor e vitalidade, evocada pela socióloga Janja.

Por meio de uma pesquisa qualitativa via entrevistas, foi diagnosticado que eleitoras indecisas têm percepção negativa do atual presidente e da economia[56]. Isso se dá, além das falas de caráter machista e agressivo – que serão analisadas mais a frente — pela condução da pandemia do Covid-19 nos últimos dois anos. Nesse mesmo sentido, o alto preço dos alimentos e o desemprego atingem principalmente as mulheres que são, em sua maioria, chefes de família. Apesar de o atual presidente reivindicar programas de auxílio (como o Auxilio Brasil, substituto do Bolsa Família) que teria beneficiárias principalmente desse grupo, o conjunto de sua atuação nos últimos quatro anos gerou repercussões negativas.

Os debates presidenciais: temática do machismo e da representatividade

Se em 2018 a corrida presidencial foi marcada apenas pela presença de Marina Silva (REDE), esse ano o número de candidatas mulheres bateu recordes com a presença feminina na liderança de quatro chapas[57]. As duas únicas que participaram dos debates e foram citadas nas pesquisas, Simone Tebet (5%) e Soraya Thronicke (1%), apresentaram baixos índices de intenção de voto. Porém, o tema das mulheres aparece como central em diversos discursos, e foi a pauta principal do primeiro debate dos candidatos à Presidência, na BAND, em agosto. A polêmica se deu principalmente por causa dos ataques à jornalista Vera Magalhães, uma das comentaristas do debate[58].

Depois desse episódio, o tema tornou-se central nas falas dos candidatos, tanto como forma de solidariedade à Vera, quanto de ataques direcionados sobre declarações machistas – como a lembrança por parte de Bolsonaro de uma fala de Ciro Gomes sobre sua esposa em 2002. O jornal O Globo fez um levantamento que coletou mais de cem menções ao termo “mulher” nas três horas do debate[59]. O presidente Jair Bolsonaro foi quem mais usou o termo, seguido de Simone Tebet (MDB), que, segundo o jornal, “também citou expressões como ‘mãe(s)’, ‘feminina(o)’ e ‘feminista’, esta última por cinco vezes, enquanto nenhum outro participante a utilizou”. Simone compôs uma chapa integralmente feminina, ao lado da vice Mara Gabrilli (PSDB) e fez diversos acenos ao eleitorado de mulheres.

Apesar do protagonismo do tema nesse primeiro debate, o último (geralmente mais esperado) na Rede Globo, dia 29 de outubro, contou com os ânimos acalorados entre os candidatos, mas sem menções significativas às pautas feministas.

Primeiras impressões dos resultados do 1º turno

Confirmado o 2º turno e ainda sem informações destrinchadas sobre a votação – como dados sobre a divisão de votos por raça, gênero, classe –, ainda não é possível discutir de forma mais profunda o comportamento do eleitorado nessas eleições, porém os altos números de votos concentrados em certos candidatos e as estratégias que serão usadas para as próximas semanas de 2º turno entre os presidentes já são primeiras impressões de um cenário geral sobre os remodelamentos e constâncias da política brasileira.

Segundo dados que podem ser acessados pelo Tribunal Superior Eleitoral, 4 senadoras foram eleitas[60], 3 alinhadas ao governo e 1 da oposição pelo Partido dos Trabalhadores (PT). O nome mais expressivo é das ex-ministras Damares Alves (PP/DF) e Tereza Cristina (PP/MS). Para cargos de governo de estados, Fátima Bezerra (PT/RN) foi eleita no 1º turno com mais de 58% dos votos. Pernambuco também terá uma governadora mulher, a disputa direcionou-se ao 2º turno com Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB).

No Congresso a bancada cresceu menos que em 2018, passando de 77 para 91 deputadas eleitas. Nomes expressivos como Joice Hasselmann, eleita com 1 milhão de votos em 2018, não alcançaram a reeleição com 13 mil votos. A deputada rompeu com o governo e hoje é filiada ao PSDB. Por outro lado, Carla Zambelli (PL/SP) se mantém como fiel escudeira de Bolsonaro, e ficou atrás apenas de Guilherme Boulos (PSOL) na votação do estado paulista, contabilizando quase 950 mil votos.

Perspectivas para o 2º turno

A partir do entendimento da importância do voto feminino, a corrida eleitoral até dia 30 deste mês já direciona os olhares dos dois candidatos à presidência para esse público. Bolsonaro irá apostar em um comitê de mulheres composto por sua esposa Michelle e pelas aliadas, já citadas, Damares, Carla Zambelli e Tereza Cristina[61]. O objetivo é diminuir a rejeição do candidato, principalmente na região Nordeste do país e entre as camadas religiosas.

Do outro lado, nomes expressivos em lugares como o Rio de Janeiro, Talíria Petrone (PSOL), Benedita da Silva (PT) e Renata Souza (PSOL), todas mulheres negras eleitas com alto índice de votação, irão liderar a campanha do ex-presidente Lula nas periferias e favelas do estado[62].


[51] Carolina Tostes é graduanda de Ciências Sociais na UFRJ e pesquisadora do NUDEB/IFCS.

[52] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45690313

[53] https://www.brasildefato.com.br/2018/09/29/mulheres-lideram-atos-contra-bolsonaro-no-brasil-e-no-mundo

[54] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/09/datafolha-mulheres-tem-votos-mais-soltos-para-presidente.shtml

[55] Dados da última pesquisa do Data Folha (20-22 de setembro): https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/09/datafolha-veja-a-evolucao-de-lula-e-bolsonaro-entre-homens-e-mulheres.shtml

[56] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/09/datafolha-mulheres-indecisas-tem-percepcao-negativa-de-bolsonaro-e-da-economia.shtml

[57] São elas: Simone Tebet (MDB), Vera Lúcia (PSTU), Soraya Thronicke (União Brasil) e Sofia Manzano (PCB) https://www.cnnbrasil.com.br/politica/com-4-mulheres-eleicoes-de-2022-terao-recorde-de-candidatas-a-presidencia/

[58] https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/09/02/interna_politica%2C1390971/bolsonaro-sobre-vera-magalhaes-tratar-com-respeito-quem-nos-respeita.shtml

[59] https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/08/debate-na-band-teve-mais-de-cem-mencoes-ao-termo-mulher-veja-as-palavras-mais-ditas-por-cada-candidato.ghtml

[60] Tereza Cristina, do PP de Mato Grosso do Sul; Professora Dorinha, do União Brasil do Tocantins; Teresa Leitão, do PT de Pernambuco e Damares Alves, do Republicanos do Distrito Federal.

[61] https://valor.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/10/07/bolsonaro-ter-comit-de-mulheres-com-michelle-damares-tereza-cristina-kicis-e-zambelli.ghtml

[62] https://extra.globo.com/noticias/extra-extra/taliria-petrone-renata-souza-benedita-da-silva-vao-assumir-campanha-de-lula-nas-favelas-periferias-do-rio-25586204.html

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