O Boletim #6 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No sexto texto “As mulheres e as eleições de 2022: Candidaturas concretizadas e possíveis cenários”, a graduanda em Ciência Sociais Carolina Tostes expõe e discute expor os nomes das candidaturas femininas, agora consolidadas, no processo eleitoral de outubro de 2022.

Confira o texto abaixo!

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As mulheres e as eleições de 2022: Candidaturas concretizadas e possíveis cenários
Carolina Tostes[45]

Resumo O presente texto é parte da pesquisa do Projeto de Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo expor e discutir os nomes das candidaturas femininas, agora consolidadas, no processo eleitoral de outubro de 2022. Para isso, nesse quarto boletim, serão levantados nomes de diversas mulheres candidatas tanto no Legislativo quanto no Executivo, além dos cargos de vice, abordando também suas características ideológicas e posicionamentos políticos com o objetivo de demarcar suas semelhanças e diferenças a partir da ocupação feminina na política em um ano considerado decisivo para os rumos da democracia do país. Matérias de jornais, entrevistas e declarações públicas foram usadas como material para a construção dos argumentos a seguir.

Representatividade em números: candidaturas femininas batem recorde

No dia 15 de agosto, iniciaram-se as campanhas eleitorais por todo o país, marcando a corrida por uma eleição considerada decisiva para os rumos da democracia no Brasil. Apesar dos registros das candidaturas femininas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) evidenciarem uma lenta evolução ao longo dos anos, o número de mulheres candidatas bateu recorde neste ano, representando 33% dos concorrentes – mais de 9 mil candidatas[46]. Além disso, o número das autodeclaradas indígenas e negras também aumentou, o que pode ser entendido a partir do avanço de lutas conjuntas de movimentos sociais com reivindicações relacionadas a direitos e reconhecimento de identidades.

Por outro lado, esse aumento significativo não indica um avanço imediato, já que, em 2018, elas também representavam 31,6% das candidaturas e totalizaram 15% do total de parlamentares eleitos. Apesar dos incentivos na legislação eleitoral, como a novidade esse ano em que votos para deputado federal valem o dobro no cálculo do fundo eleitoral caso direcionados a candidatos negros ou candidatas mulheres[47], a legitimação dessas candidaturas ainda enfrenta dificuldades. Essa resistência pode ser entendida por um histórico de formação do país marcado pela figura do político no imaginário público sempre representado por um homem, branco, de classe média, pai de família, imagem esta que vem sendo contestada por outras figuras ocupando espaços institucionais.

Mapeamento e identificação: quem são as concorrentes?

Entre os 12 candidatos à Presidência nas eleições, 4 são mulheres, sendo elas: Simone Tebet (MDB), Vera Lúcia (PSTU), Sophia Manzano (PCB) e Soraya Thronicke (União Brasil). Dos 4 nomes, Simone e Vera representam chapas integralmente femininas, ou seja, suas vices também são mulheres, compostas respectivamente por Mara Gabrilli (PSDB) e a indígena Kunã Yporã (Raquel Tremembé). Apesar do número surpreendente, as quatro candidaturas aparecem com pouca expressividade nas pesquisas eleitorais.

Para vice-presidentes, os candidatos Ciro Gomes (PDT), Leonardo Péricles (UP) e Pablo Marçal (PROS) também contam com participação feminina em suas campanhas. A professora Ana Paula Matos, também pedetista, acompanha Ciro em uma chapa pura, ou seja, apenas com pessoas do mesmo partido. Leonardo Péricles e Samara Martins, ambos do jovem partido Unidade Popular, que disputa sua segunda eleição, constituem uma chapa composta integralmente por pessoas negras. Fátima Pérola Neggra, policial militar cristã, acompanha Pablo Marçal na disputa da vaga.

Os partidos com mais candidaturas de mulheres estão no campo da considerada esquerda ou centro-esquerda. Os dados demonstram a UP como líder, seguido do PCdoB, PSTU, PSOL, PV, PT e PCB. Os partidos com menor representatividade feminina são PRTB, AGIR e NOVO[48]. Em relação territorial, as regiões Norte e Nordeste aparecem com mais candidaturas femininas, com nomes como Fátima Bezerra (PT/RN) e Marília Arraes (Solidariedade/PE) com grande expressão ou liderança na disputa dos governos de seus estados. Por outro lado, Rio de Janeiro e São Paulo, estados que contém os maiores colégios eleitorais do país, apresentam os piores índices de representação de mulheres.

Para outros cargos nestas eleições, segundo levantamento da CNN Brasil, 53 mulheres disputam vaga para o Senado, 3.543 para deputado federal e 5.330 para estadual[49]. Nomes como Joice Hasselmann (PSDB/SP), que recebeu mais de 1 milhão de votos em 2018, estão na corrida por sua reeleição. Janaina Paschoal (PRTB/SP), deputada estadual mais votada da história do estado em 2018, com 2 milhões de votos, dessa vez tenta a disputa a uma vaga ao senado. Carla Zambelli (PL/SP), um dos nomes mais fiéis ao governo Bolsonaro até o momento atual, também segue na tentativa de manter sua cadeira na Câmara dos Deputados, liderando o ranking de popularidade digital entre os concorrentes[50].

No campo progressista, nomes já conhecidos como Benedita da Silva (PT/RJ), Luiza Erundina (PSOL/SP), Jandira Feghali (PCdoB/RJ), Marina Silva (REDE/SP) concorrem a vagas no legislativo. Além disso, figuras como Sônia Guajajara, importante liderança indígena do país e vice candidata à Presidência ao lado de Guilherme Boulos em 2018, tem sido uma das apostas do PSOL paulista neste ano.

Basta ser mulher? Discursos e representação das candidatas

Apesar do reconhecimento da importância do debate sobre temas como desigualdade de gênero, violência doméstica e autonomia financeira, as formas de abordagem sobre questões que incidem principalmente sobre a vida de mulheres, como a fome e o desemprego, podem ser feitas – ou ignoradas – de formas diferentes. Apenas ser mulher e ocupar cargos na política, apesar de representar um avanço no processo eleitoral brasileiro, não significa diretamente uma defesa unificada de direitos.

Um exemplo é a candidatura de Soraya Thronicke, que, diferente de suas adversárias – principalmente de Simone Tebet – pretende não mobilizar a pauta feminina como prioridade em sua campanha[51]. Apesar da senadora se diferenciar de uma base bolsonarista, seu posicionamento no tocante ao andamento da pandemia do Covid-19, pautas como agronegócio e armas possuem proximidade ideológica com o campo conservador. Por outro lado, Simone Tebet, mesmo antes da concretização de sua campanha, tem feito falas de denúncia do machismo dentro de seu próprio partido, e tentado conciliar posicionamentos contra violências e preconceitos. A vice da chapa, Mara Gabrilli, é uma pessoa com deficiência física, e inclui em seus posicionamentos a luta anti-capacitista[52].

No Legislativo o cenário não é diferente. Políticas de direita, como a bolsonarista Chris Tonietto (PL/RJ), candidata a reeleição à deputada federal e um dos principais nomes em pautas como defesa da família, armamento e contra a legalização do aborto, é frequentemente envolvida em polêmicas sobre discussões envolvendo lutas sociais, não só no campo feminino, mas com outros grupos. A deputada foi condenada no último mês a pagar multa de R$50 mil devido a uma postagem que relacionava a prática do crime de pedofilia a pessoas homossexuais[53]. Por outro lado, deputadas como Talíria Petrone (PSOL/RJ), líder da bancada do partido na Câmara em 2021, reinvidica-se enquanto feminista e socialista, utilizando do lugar de mulher e mãe em conjunto com movimentos sociais[54].

Conclusão

Fica claro, portanto, que as eleições deste ano marcam um cenário decisivo não só no campo Executivo, principalmente na disputa à Presidência, mas também no Legislativo, podendo eleger (ou reeleger) bancadas de mulheres com interesses e posicionamentos muito distintos. As candidatas possuem em comum a demarcação de gênero, que independente do campo ideológico, define as formas de colocações públicas e as relações com outros os concorrentes.


[45] Carolina Tostes é aluna de Ciências Sociais da UFRJ e pesquisadora do NUDEB/IFCS.

[46] https://www.cnnbrasil.com.br/politica/numero-de-mulheres-candidatas-nas-eleicoes-e-recorde-mas-crescimento-desacelera/

[47] https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/08/17/camara-aprova-dobrar-peso-de-mulheres-e-negros-para-divisao-do-fundao.htm

[48] https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/08/17/partidos-de-esquerda-e-centro-esquerda-lideram-representatividade-feminina.htm

[49] https://www.cnnbrasil.com.br/politica/numero-de-mulheres-candidatas-nas-eleicoes-e-recorde-mas-crescimento-desacelera/

[50] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/08/direita-domina-ranking-de-popularidade-digital-para-deputado-federal-por-sp-confira-lista.shtml

[51] https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2022/08/campanha-de-soraya-pretende-deixar-pauta-feminina-em-segundo-plano.shtml

[52] https://g1.globo.com/google/amp/sp/sao-paulo/eleicoes/2022/noticia/2022/08/02/simone-tebet-e-mara-gabrilli-participam-de-evento-para-anunciar-chapa-presidencial-em-sp.ghtml

[53] https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/07/15/deputada-chris-tonietto-e-condenada-a-pagar-r-50-mil-por-postagem-que-relaciona-lgbtqia-a-pedofilia.ghtml

[54] https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2022/07/taliria-petrone-esta-gravida-pela-segunda-vez-e-diz-ter-ainda-mais-vontade-de-transformar-o-pais.shtml

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