O Boletim #5 está no mundo!

Que tal conferir um pouco mais das temáticas abordadas?

No terceiro texto “Jair Bolsonaro e a centralidade da pauta da liberação das armas” (p. 14-18), a graduanda em Ciências Sociais Laís Moreira analisa a estratégia bolsonarista em torno da pauta das armas.

Confira o texto abaixo!

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Jair Bolsonaro e a centralidade da pauta da liberação das armas
Laís Moreira [8]

Resumo O presente texto é parte da pesquisa do Projeto de Monitoramento Eleitoral 2022 e tem por objetivo analisar a estratégia bolsonarista em torno da pauta das armas. Nossa hipótese é que o tema das armas é um dos eixos centrais para a sustentação do movimento bolsonarista uma vez que viabiliza a imposição violenta como método de resolução de conflitos e isso se manifesta na proliferação dos Clubes de Tiro durante o governo Bolsonaro. A questão que surge para as eleições é se esses clubes serão usados no questionamento ao resultado das urnas. Para tal estudo, foi utilizado matérias jornalísticas como Correio do Povo, G1, UOL, Veja. O artigo divide-se em duas partes: primeiro, fazemos uma breve reconstrução do histórico de Bolsonaro com relação às armas; na sequência, apresentamos um diagnóstico sobre como essa pauta avançou em seu governo, através dos clubes de tiro; nas conclusões, analisamos que impacto isso pode ter no processo eleitoral.

Bolsonaro e a centralidade das armas

Desde antes de assumir o cargo de presidente, quando exercia seus mandatos parlamentares, já era evidente a centralidade conferida por Bolsonaro ao armamento e à violência. A partir de suas falas em diversas entrevistas e discursos durante sua atuação como deputado federal pelo Rio de Janeiro, é perceptível a busca pela violência para solucionar problemas presentes na nossa sociedade.

Por um lado, Bolsonaro usava a polêmica em torno da legalização indiscriminada das armas e do apoio às ações violentas das políticas contra os moradores de periferia para conseguir visibilidade; por outro, adotava o silêncio diante de mortes violentas por armas de fogo, como no caso da vereadora do PSOL Marielle Franco, o massacre de famílias periféricas pela polícia e inclusive pelos poderes militares, é um posicionamento claro de quem deve morrer diante do uso descontrolado de armamentos. Em suma, com o histórico de ex-militar, Bolsonaro é fundamental para a estruturação do pensamento pró armas que conhecemos hoje no Brasil. A manutenção da ordem, da democracia e da liberdade são os elementos restaurados a partir da legalização das armas[9], rememorando a ditadura civil-militar, onde a violência fazia parte da estruturação do Estado e do controle social.

O avanço do armamento com o governo Bolsonaro

A partir da sua campanha eleitoral em 2018, o discurso pró-armas tinha que afetar a vida individual de alguma maneira concreta, para além do discurso, de modo a garantir maior adesão dos apoiadores mais radicais de Bolsonaro. Uma estratégia clássica foi a tentativa de mudar a legislação de modo a garantir pelo Estado a defesa do uso de armas. Bolsonaro não avançou muito por essa via, optando por editar decretos que podem ser derrubados pelo próximo governo[10].

A outra via foi pelo estímulo ao uso pessoal e irrestrito de armas. Inegavelmente, Bolsonaro se ‘’inspira’’ na cultura armamentista dos Estados Unidos. O atual presidente sempre disse que, uma vez no governo, criaria o cenário perfeito para a compra de armas que seriam usadas para segurança pessoal e da família ‘’de bem’’. O bolsonarismo enquanto movimento político defende a transferência da responsabilidade da garantia da vida do Estado para o indivíduo como um direito de autodefesa e de liberdade. A proposta de legalização das armas se torna então um desejo estrutural dos apoiadores mais radicais do atual mandatário. Pessoas para quem comprar e ter uma arma era um sonho; cidadãos que constituem sua identidade política pelo armamento. Ironicamente, o que realmente garante a vida, como projetos de programas sociais de moradia, alimentação, educação e emprego foram esquecidos para a estruturação da vida do brasileiro pelo bolsonarismo.

Assim, o bolsonarismo organizou espaços físicos específicos para a perpetuação do seu ideário armamentista. A população encontrou um espaço para alimentar o seu sentimento de capacidade de autodefesa, além de fortalecer o discurso que o cidadão é perfeitamente capaz de administrar e portar uma arma. No Brasil, os clubes de tiro cresceram a partir da concretização do ideário bolsonarista, atraindo públicos diversos[11]. Bolsonaro encara isso como o fortalecimento de seu poder político, pois esse crescimento é claramente ligado a sua imagem e a sua influência, o que mostra a maior aderência ao candidato.

Disponível em: UOL, 2022

Tal processo vem afetando as eleições de 2022, tanto na campanha propriamente dita quanto na dinâmica de crescimento da violência política. Na dimensão do processo eleitoral em si, o que se vê é uma crescente mobilização bolsonarista em torno das armas, como ocorreu no evento Pró-Armas de 09 de julho de 2022 que virou um comício bolsonarista[12].

Já na dimensão da violência política, destaca-se não só a morte de um dirigente petista em Foz do Iguaçu[13], mas também a ameaça de que esses espaços podem ser usados para além que a prática de tiro, como por exemplo um instrumento de reviravoltas políticas, ameaçando o processo democrático previsto para as próximas eleições presidenciais. Com as diversas afirmações da não aceitação de sua derrota, Bolsonaro sempre convocou seus apoiadores para tomar atitudes diante do resultado das urnas – “Cada vez mais, tenho um exército que se aproxima das 200 milhões de pessoas em cada canto deste Brasil”[14].

Em suma, no governo Bolsonaro a defesa da flexibilização do acesso às armas se sobrepõe quase sempre aos aspectos fundamentais de um programa de governo voltado para garantir a vida de seus cidadãos. Sendo assim, essa pauta é um dos pilares da lógica bolsonarista e é o que sustenta seu governo e seus apoiadores mais fiéis. É necessário, portanto, monitorar essa pauta para as eleições presidenciais de 2022, já que essa foi uma das estratégias centrais da última eleição. Seu desejo da liberação das armas, seu questionamento sobre as urnas eletrônicas, e a imposição da família tradicional brasileira são os elementos que dizem sobre o conceito de democracia e liberdade para Bolsonaro, pois é a partir deles que o Estado deve se fazer presente para que a população não deva ser prisioneira, já que segundo ele, “povo armado jamais será escravizado.”

Conclusão

A partir das observações feitas, o bolsonarismo tem bases violentas e não mede esforços para impô-la, especialmente por meios antidemocráticos. É fundamental que o movimento pró-armas seja constantemente observado a fim da proteção da liberdade ideológica do país. Bolsonaro e seus aliados vão se infiltrando aos poucos em lugares que podem ser perigosos para a vida de alguns setores da sociedade. A partir do reconhecimento de que Bolsonaro usa de discursos que beneficiam apenas ele, pode-se esperar que ele ponha seus próprios eleitores em risco com a banalização da vida, como vem fazendo. Além disso, deve-se levar em consideração todas as opressões estruturais que compõem o Brasil e como o acesso às armas vão facilitar o fortalecimento dos discursos de ódio contra as minorias.


[8] Graduanda em ciências sociais pela UFRJ.

[9] https://www.youtube.com/watch?v=OCuXjAB6TxQ

[10] https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-04/entra-em-vigor-parte-dos-decretos-que-ampliam-acesso-armas-de-fogo

[11] https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/07/16/brasil-abriu-quase-um-clube-de-tiro-por-dia-sob-governo-bolsonaro.htm

[12] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/07/evento-pro-armas-vira-palco-de-campanha-eleitoral-para-bolsonaro.shtml

[13] https://www.istoedinheiro.com.br/dirigente-petista-e-assassinado-por-bolsonarista-em-foz-do-iguacu/

[14] https://veja.abril.com.br/politica/tenho-um-exercito-que-se-aproxima-dos-200-milhoes-diz-bolsonaro/

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